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NA MODA O ator irlandês Colin Farrell, assim como uma penca de famosos, é adepto do lenço

Todo mundo reparou quando o ator Colin Farrell chegou ao Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos, neste ano, usando um keffieh – ou lenço palestino – em volta do pescoço. Para os ocidentais, ele usava uma produção estilosa, febre entre os famosos desde que a grife Balenciaga apresentou sua coleção outono-inverno 2007/2008 com uma série de looks, a partir dessas peças, customizados. Desde então celebridades, como o jogador David Beckham e a atriz Kirsten Dunst, incluíram o lenço em seus guarda-roupas. Mas, para muitos árabes, o fato de o ator usar um keffieh pode significar falta de respeito ou má sorte. Isso porque o lenço xadrez – que pode ser preto e branco, azul e branco ou vermelho e branco, basicamente – é um símbolo cultural e político e não deve ser banalizado. Por tradição, é um adereço do homem árabe e, desde os anos 60, representa o nacionalismo palestino, especialmente depois de ter sido a marca registrada de seu ex-líder Yasser Arafat, morto em 2004.

Má sorte ou não, o fato é que o lenço palestino legítimo está com os dias contados. Há apenas uma tecelagem confeccionando o produto em todo o território ocupado. E, mesmo ela, vai mal. Dos 15 teares importados do Japão no início dos anos 60, somente quatro estão em atividade – os outros pararam por falta de encomendas. A pequena fábrica, com um punhado de funcionários, é dirigida por um velho homem em Hebron, na Cisjordânia. Nos tempos áureos, quando os guerrilheiros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) ganharam espaço na cena política, ela vendia 150 mil por ano. Hoje, não passam de 15 mil. O proprietário da loja explica: a culpa é da concorrência chinesa.

O lenço palestino made in China é usado pelos ocidentais por diferentes motivos. Há desde quem simpatize com a causa até quem prefira ignorar a bagagem histórica e usá-lo como adereço fashion. No meio do caminho está quem comprou a idéia da grife Urban Outfitters – de Nova York, Londres e Tóquio –, que chegou a vendê-los como símbolo anti-guerra. No Brasil, os lenços são encontrados em lojas de roupas importadas e em comércios dirigidos à comunidade árabe. “A moda bebe muito dos elementos militares. É o caso da cor cáqui e dos coturnos. É o que acontece com os keffieh s”, diz Marco Sabino, autor de Dicionário da moda. O bom é que na moda vale tudo. No Ocidente, até mesmo as mulheres conquistaram o direito de usar uma peça que, no mundo árabe, é exclusivamente masculina.

 

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TRAJETÓRIA DO KEFFIEH
O lenço, geralmente feito de algodão, começou a ser usado há séculos pelos beduínos, povo nômade dos desertos do Oriente Médio e Norte da África, como peça de identificação tribal. Ele protegia o rosto das tempestades de areia e da exposição solar. Com o tempo, chegou às cidades e, hoje, é um tradicional adereço dos homens árabes de regiões como Kuwait, Jordânia e Cisjordânia. Nos anos 60, virou símbolo do nacionalismo palestino por causa de Yasser Arafat, raramente visto sem o seu preto e branco, preso à cabeça com um pedaço de corda.


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