Lá se foram mais de 400 dias desde o seqüestro do engenheiro brasileiro João José Vasconcellos, no Iraque, e até hoje não há informação oficial sobre o seu destino. A verdade é que o governo Lula sabe o que aconteceu e está envolvido diretamente numa dura negociação. Baseado em relatórios secretos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Planalto não tem dúvida de que o engenheiro, funcionário da Construtora Norberto Odebrecht, está morto. A partir da constatação, a Abin e o Itamaraty ficaram com a missão de resgatar o corpo e trazê-lo para o Brasil. A missão já tem nome: Operação Retorno. E nela muito dinheiro está em jogo. O governo foi avisado de que os rebeldes iraquianos que seqüestraram o engenheiro queriam US$ 1 milhão para entregar seus restos mortais. As negociações começaram e, neste momento, o valor está em US$ 150 mil.

A operação de resgate é comandada, sob máximo sigilo, pelo general Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete Institucional da Presidência. O primeiro pedido de resgate se deu no ano passado. Azmi Mirza, embaixador da Jordânia no Brasil de 1993 a 1999, procurou o Itamaraty para avisar que tinha o caminho para liberar o corpo de Vasconcellos. Para isso, no entanto, precisava pagar US$ 1 milhão aos rebeldes. Para comprovar o que dizia, Mirza viajou a Brasília e fez chegar ao chanceler Celso Amorim a carteira de mergulhador do engenheiro, até aqui o único documento que apareceu desde o seqüestro. Um detalhe, porém, levou Brasília a desconfiar do ex-embaixador. Primeiro, ele queria o dinheiro na mão para, só depois, indicar a localização do cadáver. Retomadas as negociações por outras vias, o valor do resgate foi caindo. Chegou a US$ 450 mil e, agora, a US$ 150 mil.

Em abril, o então diretor da Abin, delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, chamou o jornalista paulista Cláudio Tognolli para uma conversa em Brasília. Tognolli ouviu a proposta da missão: ir a Bagdá, com tudo pago pela Abin, para procurar a organização não-governamental Iraq Institute for Peace e tentar concluir a operação. “Disseram que quem negocia o corpo fala apenas com essa entidade e que eu, como atuo na área de direitos humanos, poderia obter resultado”, conta. Tognolli ainda teria que se cercar de cuidados para não trazer o corpo errado. “Temos contatos na Arábia Saudita que podem te ajudar nisso”, disseram os arapongas ao jornalista. Amostras do DNA dos familiares de Vasconcellos foram colhidas para comparações.

O governo e a Odebrecht garantiriam o pagamento do resgate. O jornalista tirou novo passaporte e marcou a viagem. Só desistiu porque a Abin não concordou em pagar um seguro de vida. O presidente Lula chegou a autorizar a decolagem do Sucatão até Bagdá a fim de buscar o corpo de Vasconcellos.

O engenheiro foi seqüestrado em 19 de janeiro do ano passado no norte do Iraque, num ataque ao comboio que o levava até o aeroporto. A Abin assegura que ele foi baleado e morreu dois dias depois. O sigilo absoluto sobre os desdobramentos das negociações tem, entre outros, um motivo forte: confirmada oficialmente a morte de Vasconcellos, a construtora teria que pagar um seguro milionário à família do engenheiro.