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TRANSTORNO
Lotação no Aeroporto de Guarulhos: privatização é a
única saída para melhorar o conforto dos passageiros

Na quinta-feira 9, o administrador de empresas Oswaldo Ribeiro desembarcou às 11 horas da manhã no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, mas só conseguiu entrar no táxi que o levaria para casa três horas depois. O transtorno começou na entrega de bagagens, calvário que durou absurdos 90 minutos, e continuou na enorme fila de imigração. “Viajo a trabalho semana sim, semana não, e não encontro esse inferno em nenhum outro lugar do mundo”, diz Ribeiro. “Se você desembarca perto do horário de almoço, não tem lugar disponível nos restaurantes e há espera até nos banheiros.” Nos últimos anos, o enriquecimento do País não foi acompanhado pela evolução dos aeroportos – e essa defasagem atazana a vida de milhões de brasileiros. A boa notícia é que o caos pode estar com os dias contados. A concessão de três dos principais aeroportos do País (Guarulhos, Viracopos e Brasília), arrematados por empresas privadas em leilão realizado na segunda-feira 6, pode ser o início do esperado processo de modernização do setor aéreo.

Para o governo, foi um grande negócio. Os três vencedores vão pagar à União R$ 24,5 bilhões em até 30 anos, valor que será corrigido anualmente pela inflação. Na melhor de suas estimativas, a presidenta Dilma Rousseff esperava arrecadar R$ 16 bilhões. Além disso, o governo se livra de administrar uma atividade complexa que só tem gerado desgaste junto à opinião pública. Isso, porém, é apenas um lado da história. Afora as discussões políticas recheadas de inclinações partidárias, para o brasileiro comum o que interessa é que sua vida pode, sim, melhorar. “Uma de nossas prioridades é tornar o aeroporto um lugar muito mais confortável para os passageiros”, diz Gustavo Rocha, presidente da Invepar, consórcio que arrematou Guarulhos em parceria com a operadora sul-africana ACSA. “Vamos aumentar a oferta de serviços oferecidos às pessoas.” Por oferta de serviços entenda-se principalmente uma remodelação de lojas, restaurantes e estacionamentos que funcionam em Guarulhos.

A empresa espera, num prazo de até três anos, dobrar seu faturamento com produtos não tarifários, como são chamados os estabelecimentos comerciais dos aeroportos. Atualmente, esse tipo de receita é responsável por menos de 30% do faturamento total de Guarulhos. É pouco. No aeroporto JFK, em Nova York, o percentual está próximo de 70%. A Invepar também planeja inaugurar um hotel no entorno de Guarulhos e não descarta alugar espaços para cinemas, diversão comum em aeroportos americanos, mas que não emplacou no Brasil. Uma das prioridades imediatas é a ampliação do número de vagas de estacionamento. Em Guarulhos, elas são pouco mais de cinco mil, uma ninharia perto dos 80 mil passageiros que circulam diariamente por ali. Nesse ponto, a privatização dos aeroportos representa a solução rápida de um antigo problema. Por lei, a Infraero não pode administrar estacionamentos de aeroportos, o que a obrigava a repassar o serviço para terceiros.

É inegável que tudo isso, somado à construção de um novo terminal para sete milhões de passageiros até a Copa de 2014 e à ampliação da área de check-in e de despacho de bagagens (leia quadro), deve facilitar a vida dos passageiros. Parceira da Invepar, a sul-africana ACSA tem um histórico de bons serviços prestados em seu país. Quem viajou à África do Sul na Copa de 2010 pôde desfrutar da reforma do Aeroporto O.R.Tambo, em Johannesburgo. Apesar do grande número de turistas e jornalistas que foram ao evento, quase não havia filas nas diversas áreas, nem sequer na imigração. “Nossos projetos incluíram um novo terminal e 14 mil novas vagas de estacionamento”, disse à ISTOÉ Christopher Hlekane, gerente-geral do Aeroporto O.R.Tambo.

Vencedora do leilão para gerir o Aeroporto de Brasília, a empresa argentina Corporación América passou nos últimos anos a administrar os principais aeroportos do país, mas também enfrentou problemas no caminho. A companhia possui uma rede de 33 aeroportos na Argentina, dois no Uruguai, dois no Equador e um no Peru. Experiência não falta. A dúvida é sobre seu histórico, marcado por pedidos de renegociações de contratos. “Nosso objetivo é melhorar a infraestrutura para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016”, disse à ISTOÉ Eduardo Eurnekian, presidente da Corporácion América. Em Brasília, além dos investimentos na ampliação do terminal e da pista, o projeto básico prevê mais vagas de estacionamento, aumento das áreas de check-in e raio X. Segundo Eurnekian, a companhia vai desembolsar US$ 500 milhões nos primeiros cinco anos. Promessas de grandes melhorias também foram feitas pelo consórcio que vai administrar o Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Na semana passada, o grupo liderado pela brasileira Triunfo disse que vai investir até na construção de um terminal de trem para servir o aeroporto. Se tudo isso realmente for realizado – e cabe às autoridades fazer com que as vencedoras do leilão cumpram os contratos –, os brasileiros poderão, enfim, esquecer as turbulências que hoje ameaçam os aeroportos brasileiros. 

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