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MÃE TERRA
Christina já enterrou telas no Japão, Índia, Suíça, Espanha e Amazônia

Para artistas que estão sempre viajando, como é o caso da pintora Christina Oiticica, ficar constantemente longe de seus ateliês significa, muitas vezes, ter inspiração, mas não saber onde executá-la. Christina, por exemplo, passou por isso quando estava hospedada com seu marido, o escritor Paulo Coelho, em um hotel no lado francês dos Pirineus. Foi justamente dessa dificuldade de não ter um ateliê para executar seu trabalho que nasceu, então, a sua arte revolucionária. Ela levou tela, tinta e pincel para uma floresta vizinha e, quando acabou algumas obras, veio-lhe uma ideia: ­enterrá-las antes de exibi-las para que sofram a interferência natural da terra. O que pode à primeira vista parecer loucura torna-se, na verdade, uma nova e consistente forma de criação. Desde então, Christina enterra suas telas de três a seis meses. “Incorporar a natureza ao meu trabalho foi uma boa ideia. Agora só uso o ateliê para os últimos retoques”, diz a artista, que mostra 64 trabalhos desta série na exposição “Mãe Terra”, na Casa Brasil, no Rio de Janeiro.

O primeiro quadro que recebeu esse tratamento de Christina se chama “As Quatro Estações” e levou quase um ano para ficar pronto. Enquanto isso, outros foram pintados e “plantados” em florestas ou margens de rios e em lugares tão diversos que incluíram o Caminho de Santiago de Compostela e a Amazônia. “A cada pintura enterrada, a sensação é de que a Terra, a grande mãe, e Nossa Senhora atuam como coautoras”, afirma a artista, que, a exemplo do marido, privilegia em sua obra os signos femininos. Assim como Christina costuma ser a primeira pessoa a ler os seus livros, Paulo ­Coelho mostra-se um interlocutor essencial sobre a arte da esposa. ­Segundo Christina, a qualidade da tela é fundamental para que resista à ação da natureza. Ela diz que a interferência da terra é imprevisível e que isso dificulta o controle sobre o resultado final dos trabalhos. Para reencontrar as telas “plantadas”, é obrigada a lançar mão de coordenadas geográficas. O método nem sempre dá certo e já houve casos em que não conseguiu localizar a obra: “Certa vez eu enterrei um quadro na Amazônia e não consegui resgatá-lo. Foi à beira de um rio. Quando fui buscá-lo, o leito tinha subido e tive de deixá-lo lá.”

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