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A desocupação da Assembleia Legislativa da Bahia feita nesta quinta-feira (9) pelos policiais militares grevistas não significou o fim do movimento. Os manifestantes que deixaram o prédio estão reunidos neste momento no centro de salvador, em um ginásio de esportes na Ladeira dos Aflitos, onde discutem as próximas ações. Cerca de 500 pessoas participam da reunião.

Os alimentos que estavam estocados na Assembleia foram levados para o ginásio. Neste momento, eles recebem ainda mais mantimentos como pães e macarrão. Há pouco, os policiais cantaram o grito que acompanha o grupo desde a deflagração da greve, no dia 31 de janeiro: “A PM parou”.

Além disso, o movimento pode ser ampliado com a possível adesão dos oficiais. O grupo se reúne em assembleia às 17h. Na manhã desta quinta, dirigentes de quatro associações que vêm negociando com o governo estão reunidos com representantes dos oficiais para definir as atividades seguintes.

O governo do estado ainda não se pronunciou sobre o assunto. O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo (PDT), aliado do governador Jaques Wagner, comemorou a saída dos manifestantes do prédio.

“Felizmente não houve o derramamento de uma gota de sangue. Tenho a consciência limpa. Se eu não tivesse pedido o prédio, eles estariam até agora”, disse o deputado que no domingo chegou a fazer um ultimato para que os grevistas deixassem o prédio até a meia-noite.

Líder é preso 

O líder dos grevistas foi preso na manhã desta quinta-feira, em Salvador. Marco Prisco, que tinha contra ele um mandado de prisão, foi capturado após a decisão dos grevistas em terminar a ocupação da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), junto com outro líder do movimento, Antônio Paulo Angeline. Eles saíram pelos fundos do prédio, o que era uma exigência para que se entregassem.

Segundo o tenente-coronel Márcio Cunha do Exército, Prisco teria se entregado a homens da Polícia do Exército e da Polícia Federal e encaminhado ao batalhão da Polícia do Exército em Salvador. Cunha disse ainda que os outros 8 dos 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça serão cumpridos.

De acordo com um dos advogados dos manifestantes, Rogério Andrade, Prisco teria pedido uma saída discreta, evitando sair pela porta da frente da Assembleia, por onde os demais manifestantes deixaram o local.

O movimento teria enfraquecido após a divulgação de gravações telefônicas que revelaram a participação do líder em ações de vandalismo. Em trechos divulgados no Jornal Nacional desta quarta-feira, ele aparece ordenando que um homem bloqueie uma rodovia federal. "Eu vou queimar viatura… Eu vou queimar duas carretas agora na Rio-Bahia que não vai dar tempo…", afirma o interlocutor, ao que Prisco responde: "Fecha a BR aí meu irmão. Fecha a BR." Prisco nega ter participado de atos de violência.

De acordo com o advogado dos manifestantes, Prisco decidiu se entregar por conta da "inflexibilidade do governo para negociar" e com o objetivo de evitar um conflito armado. Andrade acredita que a rendição inviabiliza a continuidade da greve. "Na teoria o movimento acabou, porque o comando é retirado do movimento, que está fragilizado", explica.

A greve

A greve dos policiais militares da Bahia teve início na noite de 31 de janeiro. Cerca de 10 mil PMs, de um contingente de 32 mil homens, aderiram ao movimento. A paralisação provocou uma onda de violência em Salvador e região metropolitana. O número de homicídios dobrou em comparação ao mesmo período do ano passado. A ausência de policiamento nas ruas também motivou saques e arrombamentos. Centenas de carros foram roubados e dezenas de lojas destruídas.

Em todo o Estado, eventos e shows foram cancelados. A volta às aulas de estudantes de escolas públicas e particulares, que estava marcada para 6 de fevereiro, foi prejudicada. Apenas os alunos da rede pública estadual iniciaram o ano letivo.

Para reforçar a segurança, a Bahia solicitou o apoio do governo federal. Cerca de três mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança foram enviados a Salvador. As tropas ocupam bairros da capital e monitoram portos e aeroportos.

Dois dias após a paralisação, a Justiça baiana concedeu uma liminar decretando a ilegalidade da greve e determinando que a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) suspenda o movimento. Doze mandados de prisão contra líderes grevistas foram expedidos.

A categoria reivindica a criação de um plano de carreira, pagamento da Unidade Real de Valor (URV), adicionais de periculosidade e insalubridade, gratificação de atividade policial incorporada ao soldo, anistia, revisão do valor do auxílio-alimentação e melhores condições de trabalho, entre outros pontos.