A desilusão com a classe política e sobretudo com o PT alimenta um movimento ainda restrito, mas cada vez mais ruidoso. Grupos de jovens, refletidos em dezenas de sites, blogs e comunidades virtuais arregimentam seguidores para o voto nulo, tido por eles como a melhor forma de protestar contra o atual estado de coisas. “É uma minoria barulhenta”, define o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. O Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), presidido por Monteiro, ouviu em dezembro passado 803 eleitores no Estado do Rio de Janeiro e aferiu o tamanho da insatisfação: 25% dos entrevistados admitem anular o voto nas eleições de outubro. Outros institutos não confirmam essa tendência, mas estão todos de olho no Efeito Baixo-Astral no eleitorado brasileiro.

“É um tiro que sai pela culatra, porque reduz o número de votos válidos e, assim, favorece os políticos tradicionais”, acredita Monteiro. O cientista social Luiz Antônio Machado, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), classifica o voto nulo como antidemocrático. “Não adianta nada. Para ter impacto, só se a adesão fosse esmagadora”, pondera. Mas as fronteiras da internet vão sendo aos poucos ultrapassadas. Dinho Ouro Preto, vocalista da banda Capital Inicial, promete defender a tese nos 100 shows que fará até as eleições. “Chegou a hora dos que estão fartos com o que está aí usarem a abstenção como ferramenta de afirmação política”, diz.

A onda, registre-se, não atinge só os jovens. É o caso do advogado carioca
Homero Moutinho Filho, 57 anos, que coordena uma campanha pelo Orkut – o
site de relacionamentos mais visitado do País. Seu argumento pelo voto nulo é radical. “Nosso voto não vale nada diante de campanhas milionárias de marqueteiros”, diz Moutinho.

O Ibope até agora não registrou uma tendência no eleitorado rumo ao voto nulo, mas pelo que tem observado o presidente, Carlos Augusto Montenegro, há possibilidade de uma abstenção maior – normalmente em torno de 15% – nos votos para deputado e senador. “A campanha está fria, só esquenta depois da Copa do Mundo”, estima. Para Maria Tereza Monteiro, da Retrato, outro instituto de pesquisa, ainda não existe a cultura do voto nulo no País. Ela observa que as pessoas sempre souberam da existência da corrupção e talvez tenham se surpreendido com o envolvimento do PT. Por isso, define as manifestações como “um basta”. Ela não sabe qual vai ser o tamanho da onda, mas reconhece que a marola já começou.