Assista à nossa entrevista com o Wando aqui

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Wando, meu amigo, deixei dois recados na secretária eletrônica do seu celular. Te perdoo por não ter dado um retorno, ocupado que estava no que batizou de oficina de Deus. Mas agora você vai ter uma eternidade inteira para receber as minhas correspondências e respondê-las do jeito que achar mais conveniente. Fica frio que eu capto por aqui.

Nas mensagens eu revelava a minha ansiedade para que você se recuperasse logo. Dizia que só o alvi-negro praiano dividia com você e seu restabelecimento a minha mais apaixonada torcida. Falava do meu desejo de a gente se reunir de novo num boteco caído, para jogar uma sinuca, bater uma viola e cantar juntos mais uma vez. Não deu tempo.

No bater do martelo da justiça poética, você morreu do coração. Esse era seu principal órgão. Com ele você compôs hinos de devoção às fêmeas, o primordial objetivo de nossas vidas. Para alguns, suas letras eram escritas com outro órgão, também valioso, mas moralmente menos nobre. Que se dane quem pensa assim.

O que importa é a opinião das 15 mil moças que ofereceram suas calcinhas em sinal de rendição. Como se tirassem do corpo o único obstáculo que as separava da plena apreciação das suas mensagens. Deixaram aberto o caminho para que a sua música entrasse por todos os orifícios, sem hipocrisia, sem medo. Safadas.

Elas entenderam o recado. Perceberam que os prés e os meios justificam os fins. Aprenderam que uma noite de amor bandido vale mais do que a prisão de uma vida dedicada às aparências, ao jogo para a torcida. Absorveram a ideia de que aquele olhar e aquela baba bovina e elástica do desejo concentram toda sinceridade que o ser humano é capaz de produzir. E toparam correr o risco de ver isso tudo ir embora tão logo os galos entoem os seus primeiros dós de peito matinais. Elas são agradecidas.

Agradecidos também estamos todos nós, machos desprovidos de barrigas de tanquinho, que não temos um design do qual o Criador possa se orgulhar e que nem somos ex-BBBs. Você nos deu todo um arsenal de ideias, frases, refrões e xavecos precisamente cirúrgicos. De posse disso, ficamos valentes. Despejamos nosso basculante amoroso pra cima das moças mais bonitas do lugar. E obrigamos muitos Mauricinhos a levar para casa apenas a polo da Lacoste e o cárdigã despejado sobre os ombros. Somos todos covers seus.

O rótulo de brega nunca incomodou você, que poderia ter sido um violonista erudito, se quisesse. Num país como o nosso, ser brega não é ofensa, mas, sim, uma virtude. É a senha para o discurso direto, para chegar ao que há de bom sem djavanear. É o atalho para o amor que prescinde de confortos. Só são necessários um chão e uma mulher muito louca que beija na boca.

Amigo, enquanto houver duas pessoas dispostas a uma peleja amorosa, sua mensagem vai ser a trilha sonora do fitness voltado para determinado grupo de músculos. Pode ir com a certeza de que a humanidade se ama mais gostosinho depois que os braços de vitrola passaram a tatear os sulcos dos seus vinis.

Agora, dá licença que eu vou lá pegar o violão no qual você tocou e me lembrar da tarde em que compartilhamos a sua história. Vou cantar tudo o que aprendi com você. E não respondo por mim na hora em que chegar o verso “Doeu, ai. Doeu, ai. Doeu, ai, ai, ai, ai. Doeu”.