Editorial

Os americanos elegeram o sonho

Barack Hussein Obama é o mais puro e genuíno retrato do sonho do líder americano Martin Luther King, que queria viver numa nação onde as pessoas não seriam julgadas pela cor da pele. Sua eleição como 44º presidente dos EUA consagra a luta de outro histórico compatriota, Abraham Lincoln, que aboliu a escravatura no país. Sua condução ao poder reaviva na memória dos americanos a lembrança do presidente Franklin Delano Roosevelt, que ao tomar posse após o crash da bolsa em 29 lançou o "New Deal" e em dez anos converteu os EUA na potência que são hoje. Poucos foram os líderes que mudaram a roda da história daquele país e, por conseqüên cia, do mundo. Barack Hussein Obama tem essa chance. Por sua condição multirracial e multicultural – protestante, descendente de mulçumano, fi lho de mãe branca do sul dos EUA com pai negro queniano, criado na Indonésia com o padrasto e depois no Havaí com os avós maternos -, ele é a cara da globalização. Conquistou na Europa, na Ásia e na América coro a favor de sua candidatura, numa torcida planetária sem precedentes. Sua vitória teve o impacto comparado ao da queda do Muro de Berlim e ao da chegada do homem à lua. A façanha é, na essência, um marco revolucionário, que realinha o rumo da nação, traz à baila a fi gura do líder redentor e pode enterrar de vez as diferenças que há quase 150 anos provocaram a Guerra Civil Americana.

Quando Barack Obama nasceu, a segregação restringia o voto do negro e era crime o casamento inter-racial. Quis a ironia do destino que fosse ele fi lho da miscigenação e ganhasse a maior de todas as eleições majoritárias. O conjunto de improbabilidades que o colocou na posição de homem mais poderoso do planeta assume inúmeras facetas. No próprio sobrenome, inclusive. Com o seu Obama, que lembra o terrorista Osama Bin Laden, e Hussein, de Saddam Hussein – dois dos principais inimigos dos EUA -, Barack estaria mais perto de provocar a ira americana. Conseguiu o contrário. Uniu a todos, revoltados com a era Bush. Pela primeira vez um negro toma posse na Casa Branca – sede do governo que traz ironicamente no nome de batismo o tamanho do preconceito ainda latente. Nunca antes naquele país um negro foi tão longe. "Sim, nós podemos", foi o mantra que Barack Obama, o agora presidente eleito, conduziu durante toda a sua campanha. Resta o mais difícil: cumprir a promessa que fez após o resultado das urnas.

"A hora da mudança chegou para a América", disse. Ninguém espera menos.

Carlos José Marques, diretor editorial

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