Os primeiros sinais contundentes
de que algo precisava ser feito
contra o racismo no futebol foram
o braço esquerdo em riste, na
saudação fascista, e a expressão alucinada do atacante italiano Paolo
di Canio, da Lazio, ao comemorar seus gols. Dias atrás, outra atitude condenável chocou o mundo. Revoltado com os torcedores do Zaragoza, que imitavam macaco cada vez que ele tocava na bola, o craque camaronês Samuel Eto’o, companheiro de Ronaldinho Gaúcho no Barcelona e um dos melhores jogadores do mundo, decidiu abandonar a partida pela metade. “No juego más”, gritou, em meio aos desaforos. Deixava o campo abalado quando Ronaldinho, o seu técnico, Frank Rijkaard, e o juiz convenceram-no a voltar. Por essas e outras, está decidido: acabou o fair play. “As novas regras contra o racismo são imediatamente aplicáveis. Não é necessário mais tempo”, afirma o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A entidade acrescentou ao artigo 55 de seu código disciplinar as penalidades em caso de racismo e outras formas de discriminação. As penas serão severas e está em estudo uma forma de punir também as seleções que tiverem torcedores envolvidos com o problema neste Mundial.

Os clubes com torcedores envolvidos receberão punições que variam de suspensões de jogos e perda de pontos a rebaixamento ou eliminação de competições. A ONU também se manifestou com veemência. “Na Europa, e especialmente na Espanha, a coisa está feia”, diz o jornalista Juca Kfouri, assombrado com a atitude do jogador brasileiro Antonio Carlos, 37 anos, do Juventude, de Caxias do Sul (RS). O que o zagueiro fez: no dia 5 de março, num jogo contra o Grêmio, foi expulso por uma jogada violenta contra o volante Jeovâni e saiu de campo esfregando o braço, exibindo sua cor branca ao adversário negro. Teria dito a palavra macaco. Depois, tentou se defender com uma baboseira para dizer que todos estavam enganados em relação a seu gesto.

A decisão da Fifa foi elogiada. Na Alemanha, estará na tribuna de honra o negro que coloca todos os brancos a seus pés: Pelé. Nos gramados, o favorito Brasil entrará com seis negros de arromba – Dida, Cafu, Juan, Emerson (mulato), Zé Roberto e a estrela Ronaldinho Gaúcho, além de um ou dois que, apesar da descendência negra, se consideram brancos. Quem vai mexer com esse timaço, mostrar bananas e chamar seus craques de macaquitos? Só um branco muito desvairado. Mas cuidado: eles existem. Líder de atitudes racistas, o torcedores espanhóis esquecem que têm o brasileiro Marcos Senna, negro, naturalizado espanhol, escalado para a seleção. A alva Alemanha escala Asamoah Natu, nascido em Gana.

Que ninguém espere ter um jogador branco no continente africano. Que ninguém espere também que o rei do futebol venha a ser branco. Pelé não vai passar a coroa tão cedo. Seu título foi ratificado e nenhum branco jamais se atreveu a chamá-lo de qualquer coisa se não “o melhor do mundo”. As confederações que desrespeitarem as regras serão excluídas do futebol por dois anos. E aí não haverá “jeitinho brasileiro” que resolva. Nem alemão, espanhol ou inglês.