O décimo andar do edifício 154 da praia do Flamengo guarda um segredo que, agora, ao sair do casulo, promete agitar o mundo dos negócios. Ali, diante do Pão de Açúcar e entre miniaturas de lanchas, troféus de esportes náuticos e fotos dos filhos, o milionário Eike Batista desenvolve o embrião de uma empresa de mineração e siderurgia capaz de mudá-lo de patamar – passará a ser um bilionário. A companhia vai se chamar MMX e se abrirá ao público lançando ações cujo montante o mercado especula em US$ 750 milhões. Se o objetivo for atingido, o patrimônio de Eike deverá superar US$ 1 bilhão. Entre as âncoras da nova empresa estão uma usina na Bolívia (dois fornos já construídos), um porto no Rio de Janeiro e minas de ferro no Norte e Centro-Oeste. A razão do segredo que envolve os movimentos de Eike é simples: para credenciar uma empresa a lançar ações no mercado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige discrição absoluta, o que poupa os investidores de ilusões e promessas pirotécnicas antes da formatação e aprovação do produto.

“Só posso falar que estou impedido de falar do assunto”, esquiva-se um banqueiro que ajuda Eike a montar a operação. “Por favor, não cite meu nome nem o nosso banco na reportagem, OK?” O próprio empresário é um túmulo: evita aparecer em público e, muito menos, abrir a boca. A necessidade de reclusão vem a calhar na vida pessoal de Eike. Ele se esforça para se livrar dos anos de superexposição como marido e ex-marido da modelo Luma de Oliveira – uma visibilidade diante da qual o empresariado torcia o nariz. Nascido em Governador Valadares (MG), ele sempre teve luz própria antes de casar-se com a estrela. É filho de Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Vale do Rio Doce. Formado em engenharia na Alemanha, é fluente em cinco idiomas. Começou a comercializar ouro na Amazônia aos 24 anos, tomando US$ 500 mil de empréstimo e erguendo, em 15 meses, um patrimônio de US$ 6 milhões. A sua EBX é a “empresa-cérebro” da holding nascida da aventura amazônica.

Desde 1983, é a EBX que cria os projetos das empresas de Eike, todas com um X no nome, significando multiplicação. As mais importantes são a MPX (energia) e a AMX, de recursos hídricos, que descobriu água no deserto de Atacama, no Chile, e deverá alimentar as usinas de cobre do país. Em gestação, a misteriosa MMX. Os indícios são de que ela nascerá vistosa para o mercado internacional, mais acostumado do que o brasileiro a acompanhar o sucesso de Eike na exploração de recursos naturais. O número e a localização das minas, a dimensão das reservas minerais sob seu controle e a formatação da empresa são guardados a sete chaves. Vindo de Eike, porém, é coisa de gente grande.

US$ 120 milhões é o faturamento anual na área de energia da EBX, empresa
líder da holding de Eike Batista

US$ 1,3 bilhão será investido pelo empresário no Porto do Açu, no norte fluminense, a ser inaugurado em 2008

US$ 250 milhões é o total do investimento de Batista na construção de termelétricas na Bolívia