As dez vagas em cinco cursos da área de saúde (ciências biológicas, ciências farmacêuticas, enfermagem e obstetrícia, medicina e nutrição) atraíram 1.176 inscritos. Destes, apenas 598 fizeram as provas. Mesmo assim, e apesar do número simbólico de vagas, os educadores da Universidade de Brasília (UnB) ficaram satisfeitos por organizar o primeiro vestibular dedicado exclusivamente aos índios. A ação faz parte de um acordo entre a UnB e a Fundação Nacional do Índio (Funai). A comunidade indígena também comemorou. O sargento da Aeronáutica Maiky Ianacuai, 38 anos, sonha com uma das duas vagas de medicina para realizar o sonho de cuidar de sua tribo, de etnia kamayurá, em Mato Grosso. “Médico lá é uma raridade.” Ficará ansioso até 5 de abril, quando sairão os resultados.

O principal motivo da alta abstenção foi a dificuldade de deslocamento. Dois outros fatores podem ter contribuído: o fato de a inscrição ter sido feita no ano passado e de outras universidades terem oferecido cotas para indígenas. “A Estadual do Amazonas, por exemplo, ofereceu vagas. Quem foi aprovado ficou por lá mesmo”, explica a coordenadora de apoio pedagógico da Funai, Neide Martins. Nessas provas especiais, os candidatos apresentaram uma redação de no máximo 30 linhas, responderam a 50 questões de língua portuguesa e literatura e a 50 de matemática. “Não fizemos exames de biologia ou química porque a intenção inicial é conhecer o potencial do estudante”, explica o pró-reitor da UnB, Murilo Camargo.

Aos aprovados, a Funai oferecerá moradia e bolsa de R$ 260. Candidato ao curso de nutrição, Clecildo Santos, da etnia fulni-ô, de Águas Belas (PE), vive há três anos em Brasília. Ele elogiou o projeto, mas avalia que o benefício não é suficiente. Ele se mantém com um ateliê de costura e gasta em média R$ 400 em alimentação e transporte. “Um índio recém-chegado da tribo dificilmente arruma trabalho logo. A inserção social é difícil”, pontua. Para o próximo vestibular, a UnB pretende pelo menos dobrar o número de vagas. A torcida é grande.