i146425.jpg

O cineasta americano Woody Allen processou a loja de roupas American Apparel pelo fato de ela ter usado, sem autorização, uma de suas fotos em um outdoor. Pediu e ganhou US$ 5 milhões na Justiça. Não se trata de um excesso de autoestima – algo, aliás, que os seus personagens neuróticos estão longe de cultivar. Segundo profissionais do meio cinematográfico, o cachê de Woody Allen é, geralmente, metade dessa fortuna. Mas o poder de venda do diretor tem se revelado bem maior.

/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_1488775325773213.jpg

Há quatro anos, quando passou a filmar em outras cidades que não Nova York – ele fez três filmes em Londres (“Match Point”, “Scoop” e “O Sonho de Cassandra”), um em Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”) e atualmente repete a dose na capital inglesa em um projeto ainda sem nome – ter o passe de Allen passou a ser o sonho das mais importantes prefeituras de todo o mundo. Guardadas as devidas proporções, abrigar uma produção de Allen é hoje tão importante para o aquecimento da produção de filmes, do turismo e da geração de empregos como sediar eventos do porte de uma olimpíada. Além de um convite da Secretaria de Cultura de Paris, Allen também se encontra a um passo de assinar um contrato que estabelece o Rio de Janeiro como cenário de suas histórias. Para negociações nesse sentido, chega ao Brasil no sábado 3 a dupla de produtores que determina onde e quando ele vai realizar seus próximos trabalhos – Stephen Tenenbaum e Letty Aronson, sua irmã.

/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_1488809040034526.jpg

Os dois produtores desembarcam em São Paulo e passam dois dias em reunião com a produtora paulista O2, que tem entre os sócios o cineasta Fernando Meirelles. Na sequência, viajam para o Rio, onde ficam por quatro dias, para a mesma rodada de negociações com a produtora carioca Conspiração, QG dos cineastas Andrucha Waddington e Breno Silveira. Quem fizer a melhor oferta vai comandar toda a operação de filmagens, prevista para 2011, captando inclusive o orçamento – algo entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões, que é quanto custam seus filmes atuais. Bem-humorado, o diretor faz piada com a sua atual condição de cineasta globe-trotter. “Os países agora me ligam e dizem: vamos pôr dinheiro se você vier filmar aqui. Poderia fazer um verdadeiro tour das Nações Unidas filmando.”

Bastante interessada em se associar ao projeto como coprodutora, a Prefeitura do Rio acredita no que a imprensa espanhola batizou de “efeito Woody Allen”. Em 2007, a prefeitura de Barcelona e o governo da Catalunha, na Espanha, investiram 2 milhões de euros na produção de “Vicky Cristina Barcelona”, que deu à atriz espanhola Penélope Cruz o seu primeiro Oscar. O saldo foi positivo. Depois dele, outros diretores famosos fizeram filmes na cidade (o mais recente é Alejandro González Iñárritu), que viu o turismo aumentar a ponto de companhias aéreas americanas criarem voos diretos para a capital catalã. De acordo com a Barcelona-Catalunya Film Comission, a cidade fechou o ano de 2008 com uma injeção de 11,3 milhões euros. “A economia se beneficia e o turismo ganha impulso”, disse Júlia Goytisolo, diretora da instituição, ao avaliar o crescimento da produção local.

A secretária da Cultura do Rio Jandira Feghali, pensa da mesma forma: “A obra é, na verdade, uma propaganda turística de Barcelona. Você sai do filme com vontade de ir para lá”, diz ela, que encontra os produtores americanos na terçafeira 6. O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes também estarão presentes. “Queremos mostrar o Rio para o mundo, nas suas mais variadas facetas culturais, naturais e da vida do povo. Vamos divulgar o que a cidade tem de bom.”

Esse é o mesmo raciocínio da sua colega parisiense Christine Albanel, que fechou com Allen o compromisso de rodar um novo filme na cidade-luz em 2010. Para isso, a secretária da Cultura fez lobby entre os deputados que votaram em medidas de exoneração fiscal destinadas a baratear as filmagens nos charmosos cartões-postais de Paris. E cartões-postais não faltam no cenário natural do Rio de Janeiro e arredores. No roteiro de possíveis locações para o “Projeto Brasileiro de Woody Allen” estão o Hotel Copacabana Palace, o Jardim Botânico, Angra dos Reis e Paraty. “Queremos que ele se encante pela cidade”, diz a produtora Eliana Soárez, da Conspiração. Como Allen deseja também rodar cenas em São Paulo, a O2 vai levar os americanos a possíveis cenários da capital paulista. “Vamos mostrar desde pontos turísticos até a ruazinha do centro”, diz a produtora Andrea Barata Ribeiro. Precavida, ela preparou uma vasta pesquisa para munir o cineasta de elementos sobre a cultura brasileira, como livros, imagens e fotos que mostram a diversidade étnica nacional. Mas dispensou os CDs. Allen é grande apreciador da música brasileira – em “Tudo Pode Dar Certo”, com estreia em novembro, ele colocou na trilha as músicas “Desafinado”, de Tom Jobim, e “Menina Flor”, de Luiz Bonfá. Soa como um exercício de casa.

/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_1488919398701825.jpg

/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_1488996740352221.jpg