No final de fevereiro, a Casa Branca foi atingida por um vagalhão que promete colocar a pique a nau republicana do presidente George W. Bush nas eleições de novembro próximo. Desta vez o tsunami veio dos portos do país. Os americanos descobriram que seis de seus mais importantes terminais marítimos serão vendidos a uma companhia de Dubai, um pequeno e ultramilionário emirado dos Emirados Árabes Unidos. A notícia das mãos de árabes empalmando a costa leste dos Estados Unidos caiu como uma bomba. Afinal, dois dos terroristas do atentado de 11 de setembro eram cidadãos dos Emirados e tiveram financiamento oriundo da lavanderia dos bancos de Dubai. Mas Bush apoiou a transação. “Os Emirados Árabes têm sido aliados fiéis e importantes dos EUA na luta contra o terror. Que recado estaríamos mandando se negássemos direito de empresas de Dubai fazerem negócios neste país?”, perguntou Bush.

Os congressistas teimam em discordar. Na sexta-feira 24, a empresa Dubai Ports World foi obrigada a adiar por 45 dias a tomada da estiva. Os árabes vão administrar seis terminais marítimos importantes: Nova York, Newark, Filadélfia, Baltimore, Miami e New Orleans, que estavam nas mãos da companhia britânica P&O. Políticos de ambos os partidos – o Republicano e o Democrata – estão atentos ao fato de que 80% dos eleitores da região são contrários à transação. A revolta chegou até mesmo a fiéis republicanos. “Depois do Iraque e do Katrina, só faltava isso para enterrar nossas chances de continuar com maioria no Congresso depois de 2006”, diz o deputado republicano Peter King. Desta vez, no entanto, Bush tem razão. Primeiro porque não pode impedir legalmente a transação. Além disso, uma manobra que ponha a pique o acordo só poderia ser vista como preconceito racial contra árabes. Por que uma empresa britânica pode controlar portos, como a P&O fez durante vários anos, e uma firma de Dubai não tem o mesmo direito?