O piano Steinway impôs a sua presença no salão da Christie’s Gallery, uma das mais tradicionais casas de leilão em todo o mundo, localizada no centro de Manhattan. Não era para menos. Ao longo dos últimos 83 anos, o piano reinou em outro endereço igualmente nobre, tradicional e suntuoso: o Plaza Hotel de Nova York. Como o hotel vai passar por uma profunda reforma, quase tudo o que existia nele foi leiloado na Christie’s: cinzeiros e maçanetas, tapetes e lustres, bandejas e talheres, quadros e mobiliários – e, claro, o histórico piano Steinway. Ao todo, 350 itens foram colocados à venda com preços iniciais que variavam entre US$ 50 e US$ 18 mil. Esperava-se arrecadar cerca de US$ 750 mil. O público de 400 interessados, formado sobretudo por colecionadores, foi mais generoso do que se imaginava: arrecadou-se US$ 1,7 milhão. Comprou-se de tudo, e o que sobrou não vai encalhar. A Christie’s colocou os objetos restantes numa liquidação.

O piano Steinway foi arrematado por US$ 42 mil por um comprador anônimo. A Christie’s estimava que seria vendido por US$ 10 mil, mas a sua história explica a inflação na martelada final. Foi sobre a cauda desse piano que a escritora Zelda Fitzgerald, mulher de Scott Fitzgerald, dançou seminua, para vergonha do marido e alegria dos clientes do restaurante Oak Room. E as suas teclas foram tocadas por John Lennon e Paul McCartney quando os The Beatles se hospedaram no Plaza Hotel em 1964. No leião, também atraíram as atenções as duas poltronas de couro bordô que cercavam o piano no Plaza. Nelas se sentaram gênios da literatura como Mark Twain e Ernest Hemingway. Nelas se sentava, e invariavelmente dormia, Truman Capote. Foram vendidas por US$ 7 mil.