As superintendências de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene), responsáveis por um desvio de R$ 5 bilhões, continuam assombrando os cofres públicos. A União gasta R$ 70 milhões por ano para administrar a herança dos dois órgãos, extintos em 2001. Grande parte dos projetos financiados ainda não foi cancelada: 466 empreendimentos da Sudam e outros 88 da Sudene estão em aberto. Enquanto o esqueleto não é enterrado, os donos dos projetos – mesmo aqueles sob suspeita – continuam com chances de botar a mão em mais dinheiro público. Nenhum acusado de cometer irregularidades está preso. Até hoje o governo não recuperou um centavo.

Cabe ao Ministério da Integração Nacional se livrar do fantasma. A Unidade de Gerenciamento dos Fundos de Investimento (UGFIN), subordinada ao gabinete do ministro Ciro Gomes, gasta R$ 15 milhões por ano, mas funciona a passos lentos. Em 2002, quando foi criada, a repartição tinha 941 projetos da Sudam e da Sudene para resolver, mas só conseguiu cancelar 282. O ministro Ciro Gomes diz esbarrar nos cortes impostos pela equipe econômica para ampliar sua estrutura. “Já solicitamos reforço ao Ministério do Planejamento”, afirma. O que não falta é pressão política em favor dos empreendimentos enrolados. ISTOÉ flagrou uma cena de lobby explícito durante entrevista com Antônio Balhmann, gerente da Ugfin. Ele recebeu um assessor do senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), que pediu uma mãozinha para liberar um projeto sob investigação. Balhmann refugou: “Tem que esperar acabar o inquérito.” Ciro garante que os pedidos não chegam a ele. “Comigo ninguém vem falar porque a resposta vai na cara do freguês. Esse é um terreno pantanoso. Não dá para ter ingerência”, diz. Na Polícia Federal, a investigação mostra a dimensão do escândalo: oito em cada dez projetos têm problemas graves, de desvio de verba e de superfaturamento. Acusado pelo Ministério Público de chefiar esquema para desviar dinheiro da Sudam, o deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA) – que foi preso em 2002 – conseguiu arquivar o inquérito que o investigava. À época, sua mulher foi acusada de desvio de dinheiro da instituição para a construção de um ranário.