O pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho, viveu entre a cruz e a espada na semana passada. Acordou vitorioso na segunda-feira 20 por ter, na véspera, batido o governador gaúcho, Germano Rigotto, nas prévias do partido – transformadas em consulta informal por uma decisão da Justiça. Na quarta-feira 22, no Palácio Laranjeiras – residência oficial da governadora Rosinha Matheus, sua mulher –, o mesmo Garotinho acompanhou tenso, voto a voto, a sessão do STF que manteve a verticalização nas eleições, impedindo os partidos de fazer, nos Estados, coligações distintas das presidenciais. Não demorou, começaram a aparecer os sinais de que algo havia mudado: correligionários indicando que podem mudar de posição e amigos querendo saber como ele faria para manter uma candidatura que tromba com os interesses regionais do partido. Como um soldado que não pode dormir no campo de batalha, o olhar do ex-governador logo se levantou para afirmar, com a voz ainda rouca da ressaca das prévias: “Chegarei em junho com 20 por cento nas pesquisas. Eles não vão me derrubar.”

As armadilhas presentes nos cenários estaduais são apenas alguns dos perigos
da batalha que, estoicamente, vai sendo travada por Garotinho pelo direito de
ser candidato a presidente da República. Sua chance de vencer a guerra está na opinião pública. Com atuais 12% de intenções, ele tem de crescer e se multiplicar,
a ponto de criar um fato político constrangedor à convenção do PMDB, marcada
para junho. Como abrir mão de uma candidatura que pode nos fazer subir a rampa do Planalto?, terão de se perguntar os convencionais. Para tanto, Garotinho pretende incluir cada vez mais compromissos com a mídia em sua agenda. Ao mesmo
tempo, vai acentuar seu discurso de oposição a tucanos e petistas. Foi com esse espírito que, na quarta-feira 22, ele recebeu para jantar a equipe que elabora seu programa de governo, coordenado pelo economista Carlos Lessa. A reunião seguiu até 3 da madrugada. Às 7 horas do dia seguinte, Garotinho apresentou seu programa diário Palavra de Paz, líder de audiência no Rio. Até as 11 da manhã, já havia dado oito entrevistas e fechado o roteiro eleitoral que pretende cumprir na próxima semana. Garotinho quer pelejar no maior número possível de batalhas, e no menor espaço de tempo.

Nos bastidores, ele sugeriu ao governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, para que sinalize apoio informal do PSDB ao PMDB em alguns Estados. Seria um gesto para aliviar o medo dos peemedebistas que acreditam que, com a verticalização, o PMDB ficará asfixiado nos estados se tiver candidatura própria. Sem o PMDB na disputa, as chances de vitória de Lula no primeiro turno aumentam muito, acredita Garotinho. Por outro lado, segundo ele, “apostar na verticalização foi a maior burrice do PT”, pois, sem candidato a presidente, o PMDB cairá no colo do PSDB em muitos Estados.

E o PMDB, o que tem a perder se ficar livre, leve e solto nos Estados? “A última vez que teve candidato, em 1994, o PMDB elegeu 107 deputados. Em 2002, sem candidato, foram só 74.” Se correr da raia, segundo ele, o PMDB ficará sem condições de retomar sua força histórica. “O partido derrotou a ditadura militar e vai derrotar a ditadura dos bancos”, garante. Nos palanques eletrônicos em que tem subido, Garotinho procura traduzir para o povo as teses elaboradas por Lessa. “Sabe por que me perseguem, Paulo?, perguntou o ex-governador, no ar, ao apresentador da Rádio Capital AM, de São Paulo, Paulo Lopes. “Porque o José Sarney, o Renan Calheiros e a Rede Globo não precisam de mim. Quem precisa é a sua ouvinte, que compra uma tevê e paga duas. Essa diferença, em juros, vai para os banqueiros”, ataca.

Nesse trabalho de convencimento, Garotinho vem conseguindo aliados inesperados. Um deles é o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que perdeu para ele a consulta partidária e, em seguida, o apoiou. “Vou subir no palanque de Garotinho com entusiasmo”, promete. O senador Almeida Lima, peemedebista de Sergipe, mostra a mesma disposição. “Os governistas estão traindo os ideais do partido”, diz. Não se sente traidor o senador Garibaldi Alves Filho (RN), que sonha com uma coligação com o PSDB que reserve o candidato a vice ao PMDB. “Se Garotinho fizer uma queda-de-braço com as alianças regionais, vai sair fraturado.” O senador Gilberto Mestrinho (AM) é outro integrante da cordilheira de má vontades que terá de ser implodida. “O PMDB não tem uma liderança nacional capaz de empolgar a opinião pública”, afirma Mestrinho.

Quando entrou no PMDB, Garotinho tinha consciência da dificuldade que teria para costurar unidade nesta federação de lideranças regionais. Mesmo assim, ao ser expulso do PSB por pressão do governo Lula, resistiu aos apelos para desembarcar em um partido pequeno. Hoje, não demonstra arrependimento, até porque, acredita, um partido pequeno poderia ter sido mais facilmente cooptado pelo governo. O que ele quer é lutar.