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No Brasil, a expressão "sócio de carteirinha" é utilizada quando alguém tem laços afetivos com um clube de futebol, escola de samba ou partido político. O termo, no entanto, mais uma vez foi desvirtuado na reta final das filiações partidárias para candidatos às eleições de 2010. Na falta da reforma política que não sai do papel, todos os partidos renderam-se a projetos pessoais e eleitoreiros sem exigir de seus novos filiados compromisso histórico com programas partidários. Assim, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, ao ingressar no PSB e entrar na corrida pelo governo de São Paulo, tornou-se "um socialista de carteirinha".

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O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cotado para concorrer ao Senado por Goiás ou sair vice na chapa de Dilma Rousseff, passou de liberal a empedernido peemedebista – milita agora ao lado de notórios naN cionalistas. E até o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que nunca teve militância, assumiu a condição de petista histórico. "Ao filiar políticos não profissionais, os partidos tentam melhorar sua imagem junto à população. Mas a maioria dos que se filiam busca projetos meramente individuais", constata o cientista político da Universidade de Brasília, David Fleischer.

O pragmatismo das filiações influiu diretamente na correlação de forças para as eleições estaduais e presidenciais de 2010. No PSB, além de Skaf, que chegou a flertar com o PMDB, entraram o ex-secretário de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita, o ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia e até o craque Romário. Os socialistas, portanto, fortaleceram os palanques regionais e despontam como o partido com maior potencial de crescimento no ano que vem. Num lance de última hora, o deputado e pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PS B-CE ) decidiu transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, abrindo a porta para uma candidatura ao governo paulista.

"Os que se filiam buscam projetos meramente individuais"
David Fleischer, cientista político da UnB

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A decisão foi tomada num almoço no Recife com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Conforme apurou ISTOÉ, Ciro resistiu porque temia que a troca de domicílio indicasse para os eleitores que sua candidatura à Presidência não é para valer. Mas, contrariado, cedeu às fortes pressões do Palácio do Planalto e do PT. O presidente do diretório do PSB de São Paulo, deputado Márcio França, minimizou: "Ciro só mudou de endereço eleitoral. Ele me ligou dizendo que, desde que essa história surgiu, sua candidatura a presidente cresceu."

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A transferência do título de Ciro representa uma vitória para a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessão, Dilma Rousseff, que se ressentia de um palanque forte em São Paulo e já se via ameaçada de ficar fora do segundo turno em 2010. O ex-ministro José Dirceu comemorou. "Agora, abre a possibilidade de Ciro ser candidato a governador apoiado pelo PT, PDT e PCdoB", disse Dirceu, antecipando seu desejo. Dilma contabilizou outro ponto a favor com a filiação de Meirelles ao PMDB.

A possibilidade mais forte, hoje, é de que o presidente do Banco Central concorra ao Senado por Goiás. Mas, além de fortalecer o PMDB governista, Meirelles é uma alternativa para vice da ministra. "Consideramos naturais essas filiações que normalmente têm peculiaridades regionais", afirmou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

Na tentativa de dar credibilidade à candidatura da senadora Marina Silva (AC) ao Palácio do Planalto, o PV promoveu a filiação estratégica de 11 executivos, que podem ajudar a reforçar seu caixa. Mas, ao contrário das demais legendas, o PV ainda conseguiu observar certa coerência nas filiações ao escolher ambientalistas engravatados que já haviam manifestado preocupação com o desenvolvimento sustentável. A principal conquista foi o cofundador da Natura, Guilherme Leal, apresentado pela revista "Forbes" como "o bilionário do mundo dos cosméticos". Também assinaram a filiação Roberto Klabin, do conselho de administração da Klabin, e Ricardo Young, do Instituto Ethos.

Já o critério de filiação do PSDB atendeu às conveniências regionais. A legenda ganhou Rita Camata (exPMDB) que pretende concorrer ao Senado pelo Espírito Santo, além dos senadores Flávio Arns (PR) e Expedito Júnior (RO). Mas quem mais se mostrou dócil aos interesses pessoais foi o nanico PSC, que abrigou em seus quadros o senador Mão Santa (PI) e o candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz. De peemedebistas históricos, ambos agora são sociais-cristãos de carteirinha. Ou seja, casos exemplares de que, pela eleição, os políticos mudam de coloração partidária como trocam de camisa.

Fotos: Weimer Carvalho/Jornal o popular; Clayton de Souza/ae


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