000_Par6779603.jpg

 

O Costa Concordia, o cruzeiro que naufragou no mar Tirreno, se aproximou da ilha de Giglio para homenagear seu chefe de garçons, que nasceu no local, e um ex-comandante da companhia Costa Cruzeiro, afirmaram nesta segunda-feira (16) os jornais Corriere della Sera e Il Tirreno.

O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, detido pelo naufrágio, que deixou até o momento seis mortos, decidiu fazer uma surpresa ao chefe de garçons, Antonello Tievoli, e ao ex-comandante Mario Palombo. "Vem ver, Antonello, estamos em Giglio", teria dito o comandante ao chefe de garçons, que pensou que era uma brincadeira de Schettino, de acordo com o Corriere della Sera.

Tievoli, acrescentou o jornal, disse aos moradores de Giglio quando o socorreram: "nunca poderia imaginar que desembarcaria em minha casa" e desde então não quer falar com ninguém, já que se sente culpado por uma tragédia da qual se tornou protagonista sem querer. No jargão da marinha italiana "inchino", ou "reverência", é a aproximação a um lugar para homenagear, dar um presente a um membro da tripulação.

Segundo o jornal Il Tirreno, Antonello Tievoli, que trabalha há cinco anos no cruzeiro, ligou para seus pais, que vivem na ilha, para que vissem o navio passar por perto, um gigante do mar de 114 mil toneladas, 290 m de comprimento, 62 m de altura, 35,5 de largura, 13 andares e capacidade para 3.780 passageiros e 1.110 tripulantes.

O Concordia, que partiu de Civitavecchia, a 70 km ao norte de Roma, se chocou contra uma formação rochosa de 20 m, que provocou um buraco no casco de 70 m de comprimento. De acordo com o comandante, as rochas não constavam nas cartas náuticas que possuía. O cruzeiro navegava cerca de 150 m do litoral de Giglio, conforme as primeiras investigações.

Os jornais indicaram que essa proximidade não era para que os turistas apreciassem a vista noturna da ilha, com as luzes das casas acesas, já que, destacaram, os passageiros não foram avisados em momento algum de que passavam por Giglio.

Argentina de 72 anos nada para se salvar

Uma juíza argentina de 72 anos, que chegou nesta segunda-feira ao seu país, contou que conseguiu sobreviver ao naufrágio do cruzeiro Costa Concordia no mar Tirreno ao saltar do navio e nadar vários metros até a costa da ilha de Giglio, na Itália.

"Não havia mais saída a não ser pular no mar. Saltei com 30 ou 40 pessoas que também ficaram sem bote salva-vidas", disse à imprensa a magistrada Maria Inês Lona no aeroporto internacional de Ezeiza, próximo de Buenos Aires.

A juíza voltou ao país em um voo procedente da Itália junto com suas duas filhas, que também estavam no cruzeiro. "Com outros passageiros que também não conseguiram subir nos botes, caminhamos até a popa, que era o lugar mais próximo do litoral. Senti que o navio rangia quando já estávamos pendurados no lado direito", explicou a magistrada, que vive na província de Mendoza.

A mulher lembrou que um espanhol a ajudou na decisão de saltar na água "fria e transparente", e que só levava o colete salva-vidas, um casaco e seus sapatos para evitar que as pedras ferissem seus pés.

"Não foi um ato de heroísmo, mas de sobrevivência. Enquanto nadava, o navio se inclinava cada vez mais, e meu medo era que ele afundasse e me sugasse", afirmou a juíza ao recordar a tragédia ocorrida nas águas da região da Toscana, onde 16 pessoas continuam desaparecidas.

As filhas de Maria Inês, Maria Silvina e Maria Valeria Ávalos, uma delas deficiente, conseguiram subir em um bote e encontraram sua mãe quando achavam que ela tinha "se afogado ou estava em um bote", disse a passageira de 72 anos, uma das 4.229 pessoas que viajavam a bordo do navio.

A juíza, que comparou a tragédia com o naufrágio do Titanic, disse que a primeira advertência que teve sobre o que ocorria foi quando escutaram um "forte golpe e tudo ficou às escuras".

"Disseram que era um problema de energia, para não ficarmos preocupados, e pediram que ficássemos nos camarotes. Mas, de repente, soou o alarme e disseram que deveríamos ir ao local onde estavam os botes. O capitão nunca falou, sua atitude foi de terror", relatou.

Ao todo 18 passageiros eram de nacionalidade argentina, entre eles cinco menores de idade, que já foram localizados e estão a salvo, confirmaram porta-vozes oficiais.

Naufrágio do Costa Concordia

O cruzeiro Costa Concordia naufragou na última sexta-feira, dia 13 de janeiro, após colidir em uma rocha nas proximidades da ilha de Giglio, na costa italiana da Toscana. Mais de 4,2 mil pessoas estavam a bordo. Até a manhã de segunda-feira, dia 16, seis mortes haviam sido confirmadas. Outras 16 pessoas seguiam desaparecidas: dez turistas e seis tripulantes. O Itamaraty informou que 57 brasileiros estavam a bordo do navio, mas não há indícios de que eles estejam entre as pessoas que ainda não foram encontradas.

Segundo as primeiras informações sobre as causas do acidente, o navio, que tem 290 metros de comprimento e 114,5 mil toneladas, margeava a ilha de Giglio quando bateu em uma rocha e começou a adernar. Houve pânico entre os passageiros, que reclamaram de despreparo da tripulação e luta por coletes salva-vidas. O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, foi acusado de ter abandonado o navio. Ele nega, mas a empresa responsável pela embarcação se posicionou confirmando a negligência do capitão.