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A artista plástica Pink Wainer em sua loja e Editora do Bispo, nos Jardins:
ela gosta de ser reconhecida em sua região, mas também aprecia o anonimato

"Em São Paulo, encontrei o ambiente ideal para criar
meus filhos. Gosto do pique das pessoas, ativas
e focadas, da mistura de raças, da vida cultural"

Pinky Wainer, 56 anos, decidiu viver em São Paulo praticamente por causa de uma festa. O curioso é que, anos depois, ela assume para esta reportagem que não é nada baladeira. O fato é que ela é encantada pelo que chama de “friozinho delícia” que sopra pelas ruas da capital paulista. “Fui para a casa de uma tia, liguei para meus pais e avisei: não volto mais. Eu escolhi São Paulo”, diz a primogênita do jornalista Samuel Wainer (1910-80) e da escritora Danuza Leão, natural do Rio de Janeiro.

A artista plástica, nascida Deborah, logo cedo entendeu os códigos, as relações humanas, profissionais e se sentiu confortável nessa cidade feita por imigrantes e seus descendentes. Para ela, em São Paulo “o trabalho é importante (o que você faz é a primeira pergunta sempre), a privacidade é respeitada e a qualidade de vida é cosmopolita.”

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Museu Afro-Brasileiro
"Gosto do acervo desse espaço. É muito bonito"
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque do Ibirapuera, portão 10
Telefone: (11) 3320-8900
Funcionamento: 3ª a domingo, das 10h às 17h

“Obviamente, gostaria que olhassem mais para as periferias, para o transporte público, para a rede pública de saúde e educação. Mas aí é assunto para outro tipo de conversa”, afirma. Definindo-se “urbanoide”, a mãe de três filhos e avó de sete netos é taxativa ao dizer que gosta do ritmo das cidades grandes. “Aqui encontrei o ambiente ideal para viver e criar meus filhos. Gosto do pique das pessoas, ativas e focadas, da mistura de nacionalidades e raças, da vida cultural, dos serviços 24 horas. A cidade que nunca dorme. E não se parece em nada com Nova York”, diz.

Sócia da Loja e da Editora do Bispo, localizada na rua Melo Alves, nos Jardins, Pinky se diz privilegiada por morar perto do trabalho – vive no mesmo bairro, poucas ruas dali. “Minha vida é quase toda a pé. Gosto de ir sempre aos mesmos lugares e conhecer os funcionários e ser conhecida por eles. Me sinto protegida e acolhida”, reflete. Para ela, em uma cidade do tamanho de São Paulo é importante ter a possibilidade de se perder no anonimato da multidão ou de ser conhecida no bairro, no quarteirão. A saber: a artista plástica é sócia do marido, o advogado Zuca Pinheiro, e do jornalista Xico Sá em seus empreendimentos.

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Avenida Paulista
"Sugiro se misturar à multidão nas
calçadas da Avenida Paulista"

Seguindo esse raciocínio de “minha aldeia, minha vida“, ela e o marido, quando pensam em almoçar e jantar, nem precisam usar GPS, seguem direto para uma espécie de extensão da sala de jantar. O caminho sempre passa pelo Rodeio, Lorena 1989, Nagayama, ao Z – Deli, Le Buteque, Café Suplicy, Le Vin e Arábia. Além disso, eventualmente almoçam no A Chapa. “Todos no bairro. Todos ótimos”, garante. Pinky não é daquelas que gostam de passar a noite fora, a não ser para jantares íntimos. Seu programa preferido, diz ela, é juntar família e agregados em sua casa e pedir delivery do restaurante Ritz. E não é pouca gente: contando filhos, netos e os três enteados, lá se vão 15 bocas. “Nada é mais gostoso do que juntar todos em casa e ficar falando besteira e dando risada”, diverte-se.

Caseira assumida, ela vai pouco ao cinema. “Tenho aflição de ambientes fechados, mas recomendo o do Shopping Cidade Jardim. É um luxo absurdo, poltronas enormes e garçons. Uma coisa, de fato, absurda. E vejo TODOS (a maiúscula é dela) os filmes apenas um pouco depois da estreia”, diz. Teatro e casas de espetáculos, então, são raridades em sua agenda. Conhece o teatro Alfa e o Credicard Hall e disse que achou “bem legal”.

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Z – Deli
"Todos os restaurantes que frequento
são no meu bairro. Todos ótimos"

Rua Haddock Lobo, 1386
Telefone: (11) 3083-0021

O que a filha de Danuza Leão gosta mesmo de fazer nas horas vagas é curtir o dia. “ADORO (outra ênfase da artista plástica) passear no Parque da Luz, ao lado da Pinacoteca. É um parque antigo, que me lembra o Jardim Botânico do Rio”, afirma. Ela gosta do local especialmente por se deparar com os moradores do bairro passeando aos domingos. “Uma fauna: cantadores nordestinos, prostitutas, solitários sentados nos bancos e pensando na vida. Lembra-me muito aquela letra do Vinicius de Moraes e do Chico Buarque para a música de Garoto: ‘Gente Humilde’. É comovente.”

Museus também estão entre seus lugares preferidos para visitar. Suas indicações, claro, seguem seu conhecido gosto plural. Gosta do acervo “muito bonito” do Museu Afro-Brasileiro, das “lindas e importantes exposições” da Pinacoteca, e sempre recomenda o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna e o do Ipiranga. “São muitos.”

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Café Suplicy
"Gosto de ir sempre aos mesmos lugares e
conhecer os funcionários e ser conhecida por eles"

Alameda Lorena, 1.430
Telefone: (11) 3061-0195

Para bater perna e fuçar bugigangas (ou não), não tem a menor dúvida do que fazer: passear na rua 25 de Março, no Mercado Municipal, nas feirinhas do Bixiga e do Masp e conferir um domingo no bairro da Liberdade. Questionada sobre o que sugeriria a um estrangeiro desavisado que pisasse na cidade, não teve dúvidas: comprar os guias encartados nos jornais e revistas semanais.

E o que ele deve fazer com aquela quantidade enorme de opções? Para ela, a ticagem inclui “escolher bons shows, assistir a um jogo do Corinthians no Pacaembu, ir ao Centro Cultural Banco do Brasil e, assim, aproveitar para dar uma volta no centro da cidade, almoçar no Z – Deli, circular pelos Jardins, se misturar à multidão nas calçadas da avenida Paulista, ir ao Itaú Cultural”. E se o rapaz ou a moça estiverem exaustos de andar, propõe “ver arte e gente, descansar e fazer uma massagem no Day SPA da L’Occitane ou do Hotel Emiliano”. Como se vê, ela prefere relaxar em casa, mas adora saber que a cidade pulsa ao redor de sua sala de estar.