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CAMPANHA
Em 1950 (abaixo, com a mãe, Jenny), quando concorreu pela segunda vez à Presidência:
ele inspirou a criação do doce brigadeiro, até hoje indispensável em festas de aniversário

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Derrotado no pleito presidencial de 1974 que levou o general Ernesto Geisel ao poder, Ulysses Guimarães (1919-1992) fez um discurso em repúdio ao regime militar que perdurava no País: “Só na liberdade se criam valores estáveis para o desenvolvimento e a justiça social.” Essa marcante frase, porém, havia sido pronunciada dois anos antes, no Congresso, pelo brigadeiro Eduardo Gomes. Tinha peso pelo fato de partir da boca de um militar – e em plena ditadura. Mais impressionante ainda: um militar com a estatura de comandante da Aeronáutica nacional, ex-candidato à Presidência em duas oportunidades e tido como herói por defender a soberania brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Ao evocar as palavras do brigadeiro, Ulysses pretendia que o novo chefe da nação fosse sensibilizado pela necessidade da reconquista da democracia, colocando luz sobre um dos personagens mais marcantes daquele período. Carioca, Gomes não presenciou a restauração completa dos direitos individuais dos brasileiros. Ele morreu em junho de 1981, aos 84 anos. Trinta anos depois, a biografia “Brigadeiro Eduardo Gomes, Trajetória de um Herói” (Editora de Cultura), do escritor carioca Cosme Degenar Drumond, esmiúça como Gomes inspirou aliados e adversários com o seu senso de justiça social. A obra, que chega às livrarias na sexta-feira 20, traz depoimentos de contemporâneos do marechal do ar e um rosário de informações coletadas em arquivos públicos e na imprensa da época.

Não fosse o seu ingresso na política, a guloseima-símbolo de toda boa festa de aniversário, o brigadeiro, não existiria. Eduardo Gomes era um militar tipo galã. Tinha musculatura trabalhada pela educação física, boca pequena, rosto oval e nariz aquilino. Assim, foi cortejado pelas garotas de Petrópolis, onde nasceu, e viveu namoros furtivos. Já cinquentão, em sua primeira campanha presidencial, um grupo de cariocas criou um doce feito de chocolate e leite condensado e passou a vendê-los nos comícios para levantar fundos. A iguaria recebeu o nome de sua patente: brigadeiro. Suas admiradoras ainda assinariam um marcante slogan: “Vote no Brigadeiro. Além de bonito, é solteiro.” Segundo Drumond, Gomes, que não se casou, nasceu para a revolução. “O brigadeiro viveu a juventude lutando, conspirando”, diz o biógrafo. “Aos 25 anos já estava preso e dizia que não queria deixar uma viúva jovem. Por isso, não formou família e fez questão de viver com a mãe, Jenny, até o fim da vida dela, após ficar viúva.”

Entre as ações heroicas do brigadeiro – participou da Revolução de 1924, em São Paulo, e lutou contra a Intentona Comunista, em 1935 –, está a sua ação na Revolta dos 18 do Forte de Copacabana em 1922. Empunhando uma espingarda e um pedaço da bandeira nacional, ele e alguns poucos militares marcharam pela orla carioca em direção aos três mil soldados do governo de Epitácio Pessoa, que se opunha ao ideal democrático pretendido por setores de baixa patente das Forças Armadas. Alvejado por um tiro de fuzil, Gomes foi internado, preso e excluído da carreira militar (que seria retomada anos depois). Após o seu retorno, o revolucionário exercitou a sua porção democrática até o fim. Ele foi duas vezes ministro da Aeronáutica, implantou o Correio Aéreo Nacional, um dos fatores da integração do Brasil, e se tornou o patrono da Força Aérea Brasileira.

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