Muita fanfarra na virada do ano porque o Brasil tornou-se a sexta economia mundial, ultrapassando o Reino Unido. Não entendo por quê.

Somos a sexta economia do planeta há tempos.

As estatísticas oficiais não incluem a economia informal, como se os camelôs, pipoqueiros, as professoras de violão e os catadores de latinhas não existissem.

Acontece que há muito mais informais no Brasil do que na França ou na Alemanha, que, segundo as estatísticas, são a quinta e quarta economias do mundo. Esses trabalhadores são ignorados pelas estatísticas, mas não deixam de produzir, comer, morar, comprar e ir ao futebol. Já somos pelo menos a quinta ou talvez a quarta economia global, apesar de o FMI ainda não indicar isso.

Mesmo assim, não vejo razão para euforia. Ser uma das maiores economias ajuda a atrair investimentos e gerar empregos, mas não garante prosperidade para todos. Tudo depende do nível de renda per capita e de como a renda está distribuída. A China, por exemplo, é a segunda economia do planeta e tem um PIB 110 vezes superior ao de Luxemburgo. No entanto, cada chinês é, em média, 20 vezes mais pobre do que cada luxemburguês.

O Brasil não tem razões para se ufanar. Nossa distribuição é uma das piores do mundo e nossa renda per capita é medíocre, a 55ª do globo.

Ruim, mas já foi bem pior. O excepcional processo de transformação pelo qual o País está passando trouxe melhoras significativas. De 2002 para cá, a economia brasileira pulou da 13ª para a sexta maior do planeta, segundo o FMI. Nossa renda per capita avançou 19 posições, saindo do 74º posto. Nossa distribuição de renda também melhorou muito.

Ao contrário do que reivindicam alguns, nossa ascensão econômica não aconteceu por mérito deste ou daquele político. Melhoras semelhantes ocorreram em dezenas de outras economias no mesmo período. A explicação é uma transformação muito mais ampla e menos sujeita aos caprichos dos políticos.

Ao entrar na Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001, a China condenou o Brasil e vários outros países em desenvolvimento a emergir. Esse evento provocou uma forte e sustentada elevação dos preços das matérias-primas que exportamos, enquanto reduziu o preço de inúmeros produtos industrializados e do capital que importamos, favorecendo o consumo e o investimento por aqui e em muitos países emergentes. A mudança foi tão grande que hoje, entre os dez países com renda per capita mais elevada, metade é exportador de matérias-primas.

As forças que impulsionaram a economia mundial na última década, possivelmente, continuarão ao longo desta, o que sustentará nosso processo de desenvolvimento, apesar de solavancos esporádicos, como o que deve ocorrer este ano em razão da crise europeia. Não deixe a decepção de 2012 nublar as perspectivas do que esta década pode trazer.

Se as tendências de crescimento econômico e cambiais dos últimos nove anos em todo mundo continuarem iguais, antes da Copa do Mundo nossa distribuição de renda será melhor do que a dos EUA. No fim da década, seremos a terceira economia mundial e nossa renda per capita avançará mais 21 posições. Um ano depois, em 2021, nossa renda per capita será maior do que a dos americanos.

Nada disso está garantido. Oportunidade não é destino. Em lugar de comemorar uma estatística errada e que significa pouco para a vida dos brasileiros, deveríamos nos preocupar em criar as condições para que esse desenvolvimento potencial se torne realidade. Como já cantou o poeta: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria