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SOL TROPICAL
A serigrafia “Cibernética e Sociedade”, de Felipe Mujica, refere-se a traços inconfundíveis do continente

Em 1922, quando Oswald, Mário de Andrade e cia. desvairavam a Pauliceia, o Rio de Janeiro vestia-se de gala para festejar o centenário da Independência do Brasil e receber, entre outros ilustres convidados, o poeta modernista mexicano Carlos Pellicer. Naquele ano, bem antes de Tom Jobim pousar no Galeão com seu “Samba do Avião” (1962), Pellicer encantou-se com a paisagem e produziu um “Poema Aéreo”, descrevendo o Rio visto do avião. Mas desde o céu, Pellicer não viu o mar e a montanha com os olhos dos viajantes europeus que por aqui passaram e morreram, embevecidos por belezas e pestes. Mexicano nascido no Estado tropical de Tabasco, Pellicer viu o Rio como “síntese do continente amado” e se relacionou com ele mais por afinidade que por deslumbramento. Seus poemas inspiraram o filósofo José Vasconcelos a almejar uma “Raça Cósmica” (1925), formada pela mistura de todas as raças nativas das Américas, cuja capital seria o Amazonas.

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PANORÂMICA
“Paisagem”, de Rodrigo Matheus (acima) e aquarela de Irene Kopelman (abaixo)

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Hoje, 90 anos depois de Pellicer e 50 depois de Tom Jobim, inspirado por esse mesmo sentimento de “pertencimento” e pelos textos dos poetas conterrâneos, o curador mexicano Pablo León de La Barra concebe a exposição “Esquemas para uma Ode Tropical”, na Galeria Silvia Cintra + Box 4, em que reúne 16 artistas latino-americanos em torno da questão que a todos toca: os trópicos. “Da mesma forma que ocorre no poema de Pellicer, os trabalhos dos artistas da exposição criam múltiplas perspectivas e vozes”, afirma o curador. Portanto, conformam essa mesma orquestra panorâmica da América Latina as paisagens utópicas de Alfredo Ceibal, os retratos de selvas de Daniel Steegman, as gravuras de Felipe Mujica, as aquarelas de Irene Kopelman ou as molduras que enquadram paisagens vazias de Rodrigo Matheus.