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Colocado, involuntariamente ou não, no meio do conflito institucional que tomou conta de Honduras, o Brasil projetou-se na semana passada como protagonista da política internacional e terá de mostrar pulso para conduzir uma situação de impasse sem precedentes em meio à insurreição da população local. Ao dar guarida ao presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, a embaixada brasileira foi cercada – sob intensos ataques de bombas de gás lacrimogêneo, com água, luz e telefones cortados -, numa clara afronta a sua soberania. O presidente Lula, estrategicamente em viagem aos EUA para encontros com líderes do mundo livre, aproveitou a tribuna da ONU para exigir a imediata saída dos golpistas. Disse não reconhecer o governo do atual presidente Roberto Micheletti. Foi aplaudido. Embora estivesse dando um passo a mais na direção do confronto diplomático, Lula arrebatou apoios abertos. O secretáriogeral da OEA, José Miguel Insulza, disse que o governo brasileiro atuava com o respaldo de toda a comunidade. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, lançou a proposta de o Brasil ocupar em defi nitivo uma cadeira no conselho de segurança da entidade. Seria um dividendo extra do episódio. Na prática, o Brasil fez o que tinha que ser feito. Não havia como recusar abrigo ao pedido de um presidente eleito, que foi derrubado no exercício legítimo do seu mandato. Mas sobre Zelaya vale a lembrança de que não se trata de um estadista clássico, seguidor da cartilha dos direitos democráticos. Ele foi apeado do poder após a sua investida contra uma cláusula pétrea da Constituição do país. Queria o terceiro mandato. A manobra foi condenada pela Corte Suprema e serviu de mote para que políticos oposicionistas articulassem com as Forças Armadas locais a sua deposição. Expulso de pijama da sede do governo, Zelaya rapidamente converteu-se, aos olhos do mundo, de aventureiro oportunista em líder injustiçado. E foi além: transformou a representação brasileira numa espécie de palanque político, abraçou o projeto bolivariano do venezuelano Hugo Chávez e movimenta-se para invalidar as eleições diretas em Honduras. São faces perigosas de um mesmo personagem e para sair dessa enrascada na qual um conflito pelo poder assume várias nuances, cabe hoje ao Brasil buscar, em primeiro lugar, o respeito a sua representação diplomática e a saída negociada, por meio da OEA e de organismos multilaterais. Será talvez o maior teste para a liderança internacional pretendida por Lula.


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