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Logo em sua primeira fala na entrevista coletiva de despedida do futebol, nesta quarta-feira (11), o agora ex-goleiro Marcos avisou que faria o possível para "não ficar de beicinho tremido". O palmeirense não queria chorar em frente aos repórteres. Visivelmente nervoso no início, ele parou a entrevista duas vezes ao falar do pai, falecido em 2008, na véspera de um clássico contra o Santos, mas segurou as lágrimas que marejavam o olho.

Ao ser perguntado sobre o sentimento de suas mãe, que não desejava que ele parasse de jogar, Marcos falou também do pai e ficou com a voz embargada. "Minha mãe ficou muito triste, mas aí eu expliquei as condições que eu estava e ela entendeu. Disse: ‘então esquece um pouco o futebol e vem mais me visitar’. Meu pai tenho certeza que está feliz" e foi aí que os olhos do ex-goleiro se encheram de lágrimas e a pausa foi inevitável.

"Ele era muito simples e o que ele mais me ensinou foi preservar o nome e eu acho que fiz bem isso aí. Só", disse, antes de nova pausa. Logo se recuperou e pediu mais perguntas: "Pode mandar ver. Vou chorar não, estou sossegado".

A família foi tema recorrente na entrevista coletiva de Marcos. Afinal, o ex-jogador comemora o fato de que, agora aposentado, vai poder passar mais tempo com amigos e com os familiares. Ele lamenta não estar nos álbuns de família, por conta das seguidas ausências para jogar com o Palmeiras, e agora quer recuperar o tempo perdido.

"Não estou em nada, não vi meu filho (Luca, de 12 anos) crescer. Espero passar mais tempo com eles. Prometi ver o filme Smurfs com a Juju (Ana Júlia, de oito anos). Mas a gente vai assistir o filme e eu durmo", disse Marcos, rindo ao lado da filha, que o acompanhou na bancada da entrevista coletiva.

"Quero aproveitar bastante minha velhinha (a mãe), quero estar mais presente na vida dos meus irmãos, dos meus amigos. Vou duas vezes por ano para Oriente (cidade natal dele, no interior de São Paulo), acho muito pouco", comentou o ex-goleiro, que quer aproveitar um pouco do dinheiro que ganhou jogando futebol.

"Quem não quer comprar um barco e ter um barcão na praia. Mas não adianta nada se você não tem tempo para usufruir. Usufrui muito pouco", revelou o jogador, que ponderou: "Meus filhos vão ter um futuro melhor graças ao futebol. Você paga um preço alto, mas está ali sempre bancando as melhores condições pro filho ser feliz no futuro. O meu tempo deu. Vou desfrutar um pouco de tudo que eu conquistei. Viajar um pouco, dar uma volta por aí. Está na hora de poder descansar um pouquinho."

Seu único medo a partir de agora é que a esposa Sônia não o ature em casa por muito tempo. Mas ele promete visitar sempre o clube e a Academia. "Vou falar: ‘Sônia, estou saindo fora que vou ver o pessoal no Palmeiras." Por enquanto, ele não tem do que reclamar. "Estamos na vida que pedi a Deus."

Decisão difícil

Falando por mais de uma hora com a imprensa, o jogador revelou ter sido difícil a decisão por parar. "É uma coisa meio horrível mesmo", disse ele, lembrando do sentimento que sentiu depois de deixar a Academia de Futebol, na quarta-feira passada, depois da reunião em que comunicou à diretoria sobre sua aposentadoria.

"Eu fiquei muito mal, eu estava muito mal. A hora que eu saí daqui (da Academia) eu pensei: ‘parei, meu’. Deu vontade de falar para o César Sampaio: ‘era mentira minha, vou pensar mais um pouco’", revelou Marcos. De acordo com ele, o anúncio da parada foi feito pelo gerente de futebol e por ele mesmo porque o goleiro não queria chorar. "Tive uma semana para preparar meu psicológico", lembrou.

Marcos lamentou apenas a sensação de ter morrido, tamanhas as homenagens prestadas por amigos, pela torcida e pela imprensa. "Parece que eu morri, o pessoal falando que ‘ele vai fazer tanta falta’. Estou vivo ainda, os caras já me mataram", brincou o ex-goleiro, que deu razão ao sentimento.

"Jogador morre duas vezes. Pelo menos eu estava vivo pra ver. A aposentadoria do jogador é como se tivesse morrido. Aí você chega em casa e vê sua roupa da concentração, a mala, você fala: ‘morri mesmo’. Somos dois personagens. O pai da Juju (Ana Julia), marido da Sônia, e o goleiro. O goleiro do Palmeiras morreu", lembrou.

Jogo de despedida 

Diante das palavras do presidente Arnaldo Tirone, que prometeu realizar um jogo de despedida para o ex-camisa 12, o ídolo palmeirense fez um pedido: uma partida entre os times de Palmeiras e Corinthians de 1999/2000, que duelaram pela Copa Libertadores duas vezes. 

"Pensamos em um monte de coisa para o meu jogo de despedida e conversamos com o pessoal do marketing, mas ainda vamos definir. Quem sabe um Palmeiras x Corinthians de 1999/2000, um Palmeiras x Deportivo Cali (que decidiram a Libertadores de 1999), ou com os amigos que jogaram comigo ao longo da carreira. Apesar de que, se for chamá-los, vou ter que fazer uma semana de jogo, revezar juiz até para todo mundo jogar", brincou Marcos. 

Em 1999, Palmeiras e Corinthians se enfrentaram pelas quartas de final da Copa Libertadores, e o time alviverde levou a melhor na disputa por pênalti. Na ocasião, o goleiro, que substituía o então titular Velloso (lesionado), fechou o gol no jogo de ida (vitória palmeirense por 2 a 0) e, na volta (os corintianos haviam vencido por 2 a 0 no tempo normal), defendeu uma das duas cobranças perdidas pelo arquirrival alvinegro na decisão por pênaltis. 

No ano seguinte, o confronto se repetiria também pela Libertadores, mas na semifinal. Com triunfo de 4 a 3 para os corintianos na primeira partida, e vitória palmeirense por 3 a 2 na volta, Marcos fez a histórica defesa do chute de Marcelinho, nos pênaltis, e levou o time alviverde a mais uma decisão continental. Contudo, a equipe não conseguiu repetir o título de 99 e caiu diante do Boca Juniors.