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Na sexta-feira, 2 de outubro, será anunciada, em Copenhague, na Dinamarca, a cidade que sediará a Olimpíada de 2016. Estão na disputa, Chicago (EUA), Madri (Espanha), Tóquio (Japão) e o Rio de Janeiro. Pela primeira vez, um município brasileiro tem chances reais de se tornar a capital esportiva do mundo. A previsão é de que o resultado da votação seja apertadíssimo – o placar poderá ser definido por uma margem de dois ou três votos. Sem um favorito claro e com os projetos e documentação já apresentados aos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), o embate nesses últimos dias é político. E o Brasil está indo com tudo para esta disputa. "Para os outros países, será apenas uma olimpíada.

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SIMULAÇÕES No alto., remo e canoagem na Lagoa Rodrigo de Freitas. Acima., vôlei na praia de Copacabana

Mas, para o Brasil, será algo que vai aumentar a autoestima dos brasileiros. Nenhuma outra cidade precisa sediar os Jogos. O Brasil precisa", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nova York, antes de seguir para Copenhague, onde acompanhará a votação com uma delegação de quase 100 pessoas, entre ministros, assessores e personalidades do esporte, como Pelé e o nadador Cesar Cielo.

Realizar os Jogos de 2016 no Brasil tornou-se um objetivo nacional pelos dividendos que pode trazer para o País e, especialmente, para o Rio, o melhor cartão de visita do turismo brasileiro. Um estudo da Allianz Economic Impact, grupo especializado em análise de resultado econômico de grandes eventos esportivos, estima que as Olimpíadas tenham um impacto total de US$ 13 bilhões. Desse montante, US$ 3 bilhões seriam diretos (viriam dos jogos em si, de espectadores e patrocinadores) e US$ 10 bilhões indiretos (construção civil, turismo, transporte, hospitalidade). É maior que o da Copa, que, segundo o estudo, gera US$ 10,5 bilhões (US$ 3,5 bilhões de impacto direto e US$ 7 bilhões de indireto). É por isso que as cidades disputam o evento como se brigassem por uma medalha de ouro.

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                       MERCADOR
                      O governador Sérgio Cabral vendeu a candidatura carioca pelo mundo

O projeto da candidatura carioca começou inferior aos outros, mas alcançou o mesmo nível na última avaliação do COI. "O charme do Rio, sua beleza natural, o ineditismo de uma Olimpíada na América do Sul também contam a favor", diz o ministro do Esporte, Orlando Silva. Se for eleita, a cidade passará por uma revolução. O orçamento total da Olimpíada é de US$ 14,4 bilhões, dos quais US$ 5 bilhões serão utilizados só para adequar o sistema de transporte municipal.

O destaque é o Anel de Transporte de Alta Capacidade, que irá permitir a conexão das linhas ferroviárias com o metrô e o ônibus rápido. Independentemente do evento, boa parte das obras deverá ser realizada porque está no plano diretor da cidade, como a ampliação do aeroporto do Galeão. Mas a realização dos Jogos é uma garantia a mais de que elas efetivamente existirão. Numa contabilidade rápida, a equação é a seguinte: um terço das obras está em andamento, um terço tem previsão de acontecer e o outro terço só sai do papel se o Rio for escolhido.

Segundo o Comitê Olímpico Brasileiro, cerca de 65 mil empregos serão criados somente nas áreas de eventos, gerenciamento esportivo, turismo e operação das instalações olímpicas. Alguns cartões-postais cariocas serão reformados, como o sambódromo, para que 30 mil espectadores possam assistir à largada e à chegada da maratona, que passará pelas praias de Ipanema e Copacabana e pelo Pão de Açúcar.

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                 NOVIDADES Acima, arenas esportivas que integram o projeto Rio 2016.

A revitalização da área portuária será acelerada e se tornará uma opção de acomodação, lazer e turismo, reintegrando o porto à cidade. Hoje, o Rio conta com 20 mil quartos de hotel, há a previsão de construção de outros dez mil, gerando mais 50 mil empregos. "Recebemos várias consultas de grupos nacionais e estrangeiros que estão à espera da decisão do COI", diz Cristiano Prado, da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). "Se o Rio ganhar, esses projetos vão deslanchar." Na opinião de Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), a exposição mundial que a cidade terá é intangível. "Divulgação é muito caro e é essencial para o turismo", diz ele.

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                  A praia da Barra da Tijuca, onde serão disputadas provas oceânicas.

Para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que se transformou em uma espécie de mercador da candidatura carioca mundo afora, sediar a Olimpíada é como carimbar um passaporte. "Colocará o Rio em outro patamar como destino para grandes eventos internacionais", diz ele. Barcelona costuma ser citada como o melhor exemplo de cidade que tirou proveito de uma Olimpíada. Os Jogos de 1992 serviram para a capital catalã superar a estagnação econômica que a prejudicou na década de 80. Com a implantação de linhas de metrô, novas avenidas, um novo porto e remodelação do centro histórico, entre outras providências, a cidade tornou-se realmente um moderno centro cosmopolita.

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                               O velódromo. No canto direito, o centro de imprensa

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    PROPOSTA Carlos Arthur Nuzman, do COB, coordenou a elaboração do projeto brasileiro

Além do legado na infraestrutura, os partidários da candidatura brasileira defendem que a herança esportiva é significativa. Está prevista a construção de um Centro Olímpico de Treinamento, na Barra, independentemente da realização do evento no País. "Será importante para os atletas brasileiros e sul-americanos, que poderão se preparar aqui, em alto nível", diz o ministro Orlando Silva. Serão oferecidas bolsas para esportistas e técnicos que quiserem treinar lá. Está previsto ainda o apoio, até 2018, a 11 mil jovens atletas que não têm patrocínio privado. "Tenho certeza de que a realização dos Jogos no Rio incentivariam a prática do esporte", diz o técnico Jaques Guimarães, treinador de Josué da Costa, 16 anos. Campeão sulamericano das Olimpíadas Escolares de 2007 no salto em altura, o jovem é uma promessa para 2016. "Muitos Josués podem aparecer se o Rio virar sede da Olimpíada."

Equipamentos de alto nível, porém, não são garantia de um futuro esportivo. Muitas das obras erguidas no Rio para o Pan 2007, por exemplo, estão hoje subutilizadas, como o velódromo, o Parque Aquático Maria Lenk e o próprio estádio do Engenhão, arrendado pelo Botafogo. "Mas foram muito importantes para passarmos da primeira fase da disputa pela Olimpíada", argumenta o governador Cabral. "Nas notas de equipamentos esportivos ficamos à frente de Chicago." Essas arenas estarão em atividade em 2011, quando o Rio sediará os Jogos Mundiais Militares, um evento do tamanho do Pan.

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Os pontos mais frágeis são a segurança, as acomodações, as várias obras públicas que precisam ser "cuidadosamente monitoradas", segundo o COI, e as eventuais dificuldades de obtenção de patrocínio que podem existir por causa da Copa do Mundo de 2014. Na visão dos defensores da Rio 2016, porém, a Copa só ajuda. Afinal, o sistema de transportes, inclusive o aéreo, terá de ser sofisticado para o evento futebolístico – as cidades de Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Salvador também sediarão jogos de futebol durante a Olimpíada -, o porto do Rio precisará estar modernizado para receber mais transatlânticos e a cidade terá de contar com mais leitos.

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LEGADO O estádio do Engenhão, erguido para o PAN de 2007,será o palco do atletismo: boa avaliação do COI em equipamentos esportivos

Além disso, a sede da Fifa, a Federação Internacional de Futebol, e a base principal da imprensa durante o mundial também serão na capital fluminense. "A Copa será uma espécie de certificado de garantia que o Rio e o Brasil entregam ao COI", avalia o ministro do Esporte. Por tudo isso, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, está confiante. "Poucas vezes na história do Movimento Olímpico uma cidade apresentou tantas garantias e uma participação tão efetiva dos três níveis de governo", diz ele. "O Rio quer mostrar ao COI que os Jogos Olímpicos serão uma força transformadora, capaz de alterar a realidade econômica e social da cidade, do Estado e do País." Nos Jogos de Pequim, a China mostrou a imponência de uma nação que quer ser protagonista na cena mundial. É isso que também pretende o Brasil.