Dono da construtora do edifício Palace II, que desabou no Rio de Janeiro em 1998, o polêmico empresário Sérgio Naya morreu em fevereiro e não deixou herdeiros diretos. A família informou, na época, que Naya não tinha filhos. Mas essa história pode mudar.

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"Tenho testemunhas para provar"
Marcelo Gazeta Theza, gerente de restaurante

O gerente de restaurante Marcelo Gazeta Theza, 32 anos, impetrou, na Segunda Vara de Órfãos e Sucessões de Brasília, uma ação de investigação de paternidade pós-morte, na qual pede exame de DNA para provar que é filho de Naya. No processo, que tramita sob segredo de Justiça, Marcelo diz que foi criado por um casal amigo de Naya, em Minas Gerais. Ele não sabe quem seria sua mãe legítima, mas ex-funcionários da Construtora Sersan, arrolados como testemunhas, contaram que ele é fruto de um romance de Naya com uma das herdeiras de outra grande construtora de Brasília.

Comprovada a paternidade, Marcelo estará habilitado ao inventário de Naya. Será o herdeiro legal de um patrimônio que já foi estimado em R$ 2 bilhões, entre empreendimentos imobiliários e aplicações financeiras. "Eu sei que sou filho legítimo de Sérgio Naya", afirmou Marcelo, em entrevista à ISTOÉ. "Tenho testemunhas para provar que sou filho dele." Sobre a identidade da mãe, que estaria morando em Goiânia, ele não comenta: "Essa história é mais complicada." Na ação protocolada no Tribunal de Justiça brasiliense, os advogados de Marcelo discorrem sobre as convicções que levam à paternidade de Naya. Em 1995, quando morava no município de Astolfo Dutra (MG), Marcelo perdeu o pai adotivo, Círio Theza, um velho amigo de Naya, que guardou segredo em vida sobre a paternidade. Após o velório, Naya desembarcou de forma inesperada na cidade e disse a Marcelo: "Filho, você vai morar comigo em Brasília."

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PALACE II
Naya morreu em fevereiro e até hoje sua construtora deve a vítimas do desabamento do edifício Palace II, ocorrido em 1998, no Rio de Janeiro

O rapaz ficou confuso com a atenção de Naya, mas concluiu que ele queria dar um empurrão em sua vida, retirando-o de uma pequena cidade para colocá-lo em uma universidade e nos grandes negócios. Marcelo foi para a capital federal, onde trabalhou e estudou. Durante cinco anos, morou com Naya num apartamento no centro da cidade. Na ação, os advogados dizem que Naya sempre o chamou de "filho". E destacam a "notória semelhança" entre Marcelo e o empreiteiro quando jovem. Para sustentar o que afirmam, os advogados anexaram fotografias de Marcelo ao processo, nas quais ele aparece com óculos iguais aos de Naya.

O ESPÓLIO
R$ 2 bilhões

foi, segundo os advogados, quanto chegou a somar o patrimônio de Naya entre empreendimentos comerciais e aplicações financeiras, mas boa parte foi usada para pagar dívidas

Além do exame de DNA, Marcelo aposta no depoimento de cinco testemunhas. Uma delas é Sebastião Bucar, ex-funcionário de Naya. Procurado por ISTOÉ, Bucar recusou-se a falar. Em 2004, Naya foi investigado por falsificar documentos para transferir uma fazenda para o nome de Bucar, mas depois os dois brigaram. O advogado do inventário de Naya, Wilson Campos de Miranda Filho, diz que o empresário jamais falou sobre a existência de um filho, mas reconhece que Marcelo era uma pessoa do convívio do ex-deputado.

Os seis irmãos de Naya estão dispostos a fazer o exame de DNA. "Essa é uma ação que deve ser levada a efeito e vamos fazer os exames", diz Miranda. Apesar de aceitarem o exame, a possibilidade de existir um herdeiro revoltou os irmãos. "Esse rapaz é mais um que está querendo tirar proveito econômico", disse Paulo Naya, um deles, em conversa com os advogados

"Que eu saiba, meu irmão nunca teve filhos", contou Laís Helena Naya Zoghbi à ISTOÉ. Segundo Miranda, a fortuna de Naya somou cerca de R$ 2 bilhões, "mas grande parte foi consumida nos últimos 12 meses para quitar dívidas". Mas, apesar do enorme passivo judicial e do bloqueio de bens, ninguém duvida que o espólio ainda é significativo, pois Naya tinha inúmeros negócios.


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