19/04/2006 - 10:00
Defensor de primeira hora de uma candidatura própria, o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, está convencido de que escolheu o lado da razão. Um dos motivos está na última pesquisa do instituto Datafolha, na qual o pré-candidato Anthony Garotinho reduziu de 11 para cinco pontos a distância em relação ao segundo colocado, o tucano Geraldo Alckmin. Esse resultado aqueceu os ânimos da militância e vai isolando os que se opõem à estratégia, como os senadores José Sarney e Renan Calheiros. Nos Estados, onde os postulantes a governador pelo partido suspeitam que a candidatura própria prejudique suas alianças regionais, uma fórmula para a conciliação de interesses acaba de surgir. Temer articulou uma reunião entre Garotinho e os candidatos a governador para a quarta-feira 19. Nela, irá lançar a tese da “aliança branca”, pela qual acordos entre partidos serão feitos informalmente, muitas vezes em torno da vaga de candidato a senador. Outro ponto que o entusiasma é o fato de que, com Garotinho, o PMDB terá a chance de apresentar ao País um programa alternativo ao do PT e do PSDB. “Colocaremos o homem no centro das preocupações do governo”, disse Temer a ISTOÉ.
As circunstâncias são cada vez melhores para termos nossa própria candidatura. Depois da consulta que o partido fez aos seus militantes, em que 14 mil cidadãos se manifestaram, o nosso candidato Anthony Garotinho subiu três pontos em uma pesquisa de opinião. Esse é um dado bastante positivo, mostra que ele foi bem recebido pelo eleitorado e está entusiasmando a militância. Nossas chances estão aumentando cada vez mais. A motivação é total.
As circunstâncias são cada vez melhores para termos nossa própria candidatura. Depois da consulta que o partido fez aos seus militantes, em que 14 mil cidadãos se manifestaram, o nosso candidato Anthony Garotinho subiu três pontos em uma pesquisa de opinião. Esse é um dado bastante positivo, mostra que ele foi bem recebido pelo eleitorado e está entusiasmando a militância. Nossas chances estão aumentando cada vez mais. A motivação é total.
Se é assim, melhor ainda. Um candidato que aparece e sobe nas intenções de voto demonstra que tem potencial. O ruim seria se ele pusesse a cara na tevê e perdesse pontos imediatamente. Durante a campanha eleitoral, em que o PMDB tem um bom espaço na televisão, ele pode crescer mais ainda.
O PMDB precisa ter uma identidade nacional, não pode ser apenas um partido regional. Com Garotinho, nós apresentaremos um programa de crescimento para o País. Há, no entanto, algumas dúvidas entre os candidatos a governador nos Estados. O que vamos fazer é um encontro entre eles, Garotinho e os presidentes dos diretórios estaduais. Será uma oportunidade para o cruzamento de estratégias.
Não, eu compreendo a posição deles. O senador Renan está apoiando o candidato do PSDB em Alagoas. O senador Sarney tem na ex-governadora Roseana a sua candidata pelo PFL. O argumento deles é que, se houver a candidatura própria do PMDB, não se pode fazer alianças nos Estados. Por outro lado, muitos dos nossos candidatos nos Estados já sustentam que poderão fazer alianças brancas.
Teoricamente, sim. Eu sempre achei que este seria o grande momento do PMDB. E este momento chegou. O partido, com a candidatura Garotinho, tem chance real de chegar à Presidência da República. Não podemos desprezar isso. Mais ainda, temos de aproveitar a eleição para dar uma posição nacional ao partido. Muitos sustentam que não deve haver candidato de jeito nenhum. Eu acho que tem de haver, mas, falando apenas por hipótese, se não houver candidato nós temos de fazer aliança com alguém. Do contrário, o partido ficará numa posição muito frágil no plano nacional. Passa a ser nada.
O PMDB é um partido muito forte regionalmente. Nós temos nove governadores, o maior número de prefeitos, milhares de vereadores e centenas de deputados estaduais e federais. Como o partido é forte regionalmente, em vez de colocar-se nacionalmente ele prefere estar presente apenas nos Estados. Essa estratégia, hoje, é um equívoco.
Ele costuma sempre me perguntar, depois das reuniões da comissão executiva do PMDB, quais foram as decisões. Reconheço que ele nunca descumpriu uma delas. Ele, se vier a ser o candidato, não irá abandonar o partido. Acho, ao contrário, que Garotinho se entranhou no PMDB e tenho a sensação de que, eleito ou não eleito, ele continuará nas nossas fileiras.
A tarefa de fazer o programa de governo é do partido. O que está sendo feito pelo candidato é um pré-programa. Esse trabalho está sendo apresentado a todo o PMDB do Brasil. Nós fizemos várias reuniões regionais em que esse texto foi debatido e recebeu, inclusive, várias sugestões. O professor Lessa vai me entregar esse programa e eu irei repassá-lo ao candidato e aos diretórios regionais. Haverá, assim, uma nova rodada de ajustamentos e sugestões. Só depois teremos um programa definitivo, uma mescla do que quer o partido e do que quer candidato. É claro que a palavra dele terá um peso forte nesse processo.
Muito. Neste momento, temos um entusiasmo crescente dentro do partido pela candidatura própria. É o que quer a base ativa do PMDB, os vereadores, prefeitos, deputados e delegados às convenções estaduais. Mas é importante ouvirmos os candidatos a governador dos Estados. Acontece que nem o partido nem Garotinho querem prejudicar esses candidatos. Nosso interesse é uma fórmula de convivência que resulte num bom número de governadores. Por isso a conjunção que vamos fazer no dia 19 é muito importante.
Para as bancadas estadual e federal é importante você ter o número 15 na Presidência da República e o número 15 nos Estados. No tocante aos governadores, eu sou obrigado a reconhecer que as alianças são úteis. Mas os nossos candidatos são muito fortes, portanto eles podem fazer a aliança em torno deles mesmos. Um candidato a governador pelo PMDB pode deixar de lançar um candidato a senador, que então seria indicado por outro partido. Isso é aliança branca.
Não é uma estratégia desejável. Por isso trabalhei muito pela queda da verticalização, incompatível com a realidade dos partidos. Eu tinha convicção de que, mantida a verticalização, iriam surgir alianças brancas em todos os Estados. E não só no PMDB, mas em todos os partidos.
Pode haver alianças brancas para as eleições proporcionais, de deputados estaduais e federais, mas o grande cargo que está em jogo é o de senador. Muitos dos nossos candidatos fortes, para termos uma boa candidatura presidencial, poderão oferecer aos aliados a disputa pela vaga ao Senado.
Ele me falou várias vezes sobre suas conversas com Alckmin. Acho bom. Eles estabeleceram uma ponte entre si. O próprio Alckmin conversou longamente comigo. E também foi no sentido de estabelecer uma ponte. Nós temos interesse nessa ponte, naturalmente, para um entendimento no segundo turno. Eu tenho conversado com o senador Jorge Bornhausen (presidente do PFL) e vou falar com Tasso Jereissati (presidente do PSDB). Quero, enfim, dialogar com todos.
Acho possível, mas é o Plano B. Evidentemente, porém, para isso ser levado adiante teremos de ouvir todo o partido, especialmente o Garotinho.
Eu não acredito. Pelo menos não neste momento. Tenho a impressão que eles irão até o fim com Alckmin.
Isso não é útil para o candidato Alckmin. Toda vez que se discutir a sua substituição se estará impedindo, ao mesmo tempo, o seu crescimento. Mas essa é uma questão que cabe ao PSDB discutir.
De fato, é. Olhe o que aconteceu no PMDB. Apesar de haver considerações contra a candidatura do Garotinho, ele cresceu. Isso mostra que há espaço para a apresentação de uma alternativa para o eleitorado. A eleição, assim, sai da polarização entre PT e PSDB. Passaremos a ter um programa de governo, diferente dos outros, para discutirem. Isso é útil, especialmente para o debate econômico.
Ele é desenvolvimentista, se apega ao crescimento econômico. Não dá mais para ter uma política apenas assistencialista. Nós iremos tirar a moeda do centro da preocupação do governo. Falaremos menos em superávit primário e relações com o FMI para colocar cada vez mais o homem no centro das preocupações.
Isso estimula a convenção a discutir candidatura própria. A nossa tese, assim, fica mais forte. O gesto de Quércia é legítimo e o ex-presidente Itamar pode perfeitamente se apresentar à convenção. Nas nossas prévias, o fato de
haver duas candidaturas animou a militância e aumentou o debate interno. Dele,
o PMDB saiu unido.
om o PT, não. Acho mesmo que o PT não sabe fazer política. Eu, na presidência do PMDB, não fui procurado oficialmente por ninguém do PT. Teria sido um gesto civilizado, para uma conversa institucional. O que temos hoje é o presidente Lula conversando pessoalmente com os senadores Sarney e Renan. Eles não podem falar pelo partido. Essas conversas não somam.