Em seu terceiro filme, Sam Mendes, cineasta inglês sediado nos Estados Unidos, confirma sua vocação de ficar “no meio do caminho”. Se no aclamado Beleza americana isso não ficou claro, crítica e público se afinaram em termos de indiferença diante de A estrada da perdição, o épico da lei seca estrelado por Tom Hanks e que ficou famoso por conseguir transformar Jude Law em um homem feio. Soldado anônimo (Jarhead, Estados Unidos, 2005), em cartaz nacional, para não fugir à regra, fica a meio caminho entre duas obras de grandes diretores. Ao abordar o peculiar confrontro conhecido como guerra do Golfo, Mendes permaneceu entre a pirotecnia maníaca de Apocalypse now, de Francis Ford Coppola, e a brutal impotência, não menos patológica, de Exército inútil, de Robert Altman, com direito a citação de Doors e Wagner.

Baseado nas memórias do sargento Anthony Swofford (Jake Gyllenhaal), Soldado anônimo focaliza sua vida no exército desde o campo de treinamento até a sua chegada ao campo de batalha no Oriente Médio, que na verdade não passa de uma interminável farra de bode – festa hetero exclusivamente masculina –, onde a testosterona se mistura às lágrimas. Como “Swoff” enumera, masturbação, releitura de cartas de esposas e namoradas infiéis, limpeza de rifle, mais masturbação, cuidados com o walk-man, discussões sobre religião e o significado da vida, e por aí vai, ou não vai.

Para que se tenha uma idéia da indefinição, Gyllenhaal, de O dia depois de amanhã, disputou o papel com Leonardo DiCaprio e Tobey Maguire; Chris Cooper, de Beleza americana, repete a dicotomia homossexualismo-militares, como o tenente-coronel Kazinski, papel cobiçado por Michael Keaton, Kurt Russell e Gary Oldman; e, por incrível que pareça, Jamie Foxx, de Ray e Colateral, passa despercebido.