O câncer é uma das doenças
mais estudadas pela medicina.
E, aos poucos, novas armas são descobertas para atacar o inimigo.
As mais promissoras são remédios
da linha conhecida como targeted therapy, ou terapia dirigida ao alvo.
São drogas de mira precisa, que
agem especificamente sobre elementos presentes maciçamente nos tumores. Na última semana, um dos representantes dessa categoria recebeu aprovação do governo brasileiro. O Tarceva foi liberado para tratamento de câncer de pulmão, cuja estimativa de novos casos em 2006 supera os 27 mil no País. A droga inibe uma proteína da célula maligna que favorece o seu crescimento. Também este ano foi aprovado, porém pelo FDA – a agência americana para controle de remédios –, outro produto dessa novíssima geração. O Sutent teve o aval da entidade para dois tipos de tumores: o de rim e um que afeta o sistema gastrointestinal (o Gist). O remédio impede o crescimento de vasos sangüíneos que nutrem a célula doente e evita também a proliferação da doença. E em dezembro a agência liberou o Nexavar contra câncer renal. Ele atua de modo semelhante ao Sutent.

Essa linha de remédios, entretanto, não é inofensiva. “A maior parte deles é
mais bem tolerada do que os demais produtos. Mas têm efeitos colaterais como fadiga ou diarréia”, conta Artur Katz, oncologista do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. De qualquer modo, o surgimento dessas drogas trouxe mais possibilidades de tratamento. Elas têm demonstrado inclusive condições de combater distintas células malignas. Isso porque os alvos selecionados são encontrados em tumores diversos. É como se os remédios usassem a mesma chave para abrir portas de diferentes casas.

Foi o que aconteceu com o Erbitux, indicado contra o câncer colo-retal. Em março, o FDA o aprovou para pacientes que tiveram metástase de tumores de cabeça e pescoço. Em 45 anos, é o primeiro tratamento para esse fim que recebeu a chancela do órgão americano. São notícias animadoras. “Estamos na era da terapia que vai direto ao alvo”, comenta Ademar Lopes, do Hospital do Câncer de São Paulo. De fato, além dos remédios, os tratamentos também estão mais direcionados. Um exemplo é a radioterapia. “Hoje, podemos fazer uma única sessão da técnica, quando antes precisávamos de 36. Isso se deve ao avanço do equipamento que faz com que ataquemos apenas o tumor”, explica Lopes.

Os especialistas também têm motivos para comemorar no campo genético. O destaque é uma técnica batizada de microarray de DNA. Ela analisa o tumor e
aponta as mutações genéticas, facilitando a descoberta de um meio de impedir que ele deflagre novas alterações. No congresso da American Society of Clinical Oncology, a maior entidade de câncer no mundo, que acontecerá em junho, pesquisas com o método serão as atrações. “Com o microarray será possível identificar a melhor estratégia contra a doença”, afirma Gilberto Schwartsmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, apenas um exame desses é oferecido, e nos Estados Unidos. É para câncer de mama. “Ele permite, por exemplo, definir quando se deve optar pela quimioterapia ou hormonioterapia”, diz o oncologista Antônio Buzaid, do Hospital Sírio Libanês, na capital paulista. Segundo o médico, por ora a técnica é útil apenas em alguns casos. Mas certamente vai gerar muitas aplicações para o futuro.