Aos 77 anos, Paulo Mendes da Rocha continua polêmico na fala e na arte. O maior exemplo recente é a marquise levantada em 2002 na praça do Patriarca, no centro de São Paulo, que despertou a fúria de muitos arquitetos por causa da brusca intervenção na paisagem. Ele também não poupa opiniões cortantes. “Os shoppings são uma espécie de curral de compras. Só falta servir feno nas praças de alimentação”, diz, sobre a substituição do comércio de rua pelos templos do consumo. “Há coisas mais importantes do que fazer prédio em forma de caixa de uísque e projetar uma torre no meio do rio como se arquitetura fosse brincadeira”, diz Paulo Mendes da Rocha sobre a função social do arquiteto. “Recuperar o centro de São Paulo implica repovoá-lo, devolver sua dignidade, e não apenas inaugurar museus em cada esquina”, diz sobre o programa de revitalização. Dias atrás, o arquiteto ainda festejava a inauguração do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, quando soube da escolha de seu nome para o prêmio Pritzker, espécie de Nobel de arquitetura oferecido pela Fundação Hyatt, da rede americana de hotéis da família Pritzker. A cerimônia de entrega está marcada para 30 de maio em Istambul, na Turquia, de onde trará US$ 100 mil e um medalhão de bronze. Antes dele, o único brasileiro agraciado com o título era Oscar Niemeyer, que em 1988 dividiu o prêmio com o americano Gordon Bunshaft.

“É um reconhecimento à arquitetura brasileira, que, apesar dos poucos séculos de história, mostra sua capacidade de encontrar soluções criativas integradas à natureza e com economia de formas e materiais”, diz o premiado. Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Paulo Mendes da Rocha é considerado o maior nome da arquitetura de São Paulo, onde se formou em 1954. Já em 1958, projetou a sede do Clube Atlético Paulistano e virou alvo da crítica, surpreendida pelo abuso do concreto aparente. “Paulo é o maior representante da chamada arquitetura paulista, caracterizada por um aprofundamento da linguagem moderna baseado na manipulação do concreto e no conceito de verdade estrutural, na exposição bruta das vigas e colunas, sem pastilhas, tinta ou revestimento”, resume Gilberto Belleza, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil.

Foi na capital paulista que Mendes da Rocha realizou suas obras mais conhecidas, como o Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), projetado em 1988, e a nova configuração da Pinacoteca do Estado, realizada em 1993. Homenageou a cidade ao dar o nome de Paulistano à linha de cadeiras criadas por ele, dentre as quais o modelo “chaise-longue”, de 1985. Viajando pelo País, construiu o estádio Serra Dourada, em Goiânia (GO), em 1973, e a Capela de São Pedro, em Campos do Jordão (SP), em 1987. Fotos e croquis de suas obras ilustram os artigos de próprio punho presentes no belo livro Paulo Mendes da Rocha, organizado por Rosa Artigas e publicado pela Cosac Naify.

De São Paulo, o arquiteto chegou ao Japão. Em 1970, Mendes da Rocha construiu o pavilhão brasileiro na Expo 70, feira internacional de cultura realizada em Osaka, em parceria com Flávio Motta e tendo como ajudantes Júlio Katinsky e o recém- formado Ruy Ohtake. “A ausência de separação rígida entre os lados de dentro e de fora do edifício exemplifica o caráter democrático de sua obra. O prêmio é a condecoração de alguém que fez da utopia sua diretriz profissional”, reverencia Ohtake. “Ele é um craque. Seu traço é de uma elegância perturbadora. Mesmo que ele não esteja preocupado com isso”, emenda Isay Weinfeld. E precisa se preocupar?