Está lá no relatório do Ministério Público um passeio por rostos proeminentes da República, que nos últimos tempos ocuparam o noticiário não por seus feitos, mas pelos deslizes convertidos em graves acusações. Ministros, políticos, banqueiros e empresários em profusão. Ao todo, 40 denunciados que são a face mais triste da nova ética que vigora no País – mas não a única face. Faltaram, talvez, no retrato a deputada despudorada que promoveu a dança da impunidade, o general que abusou da autoridade para regatear privilégios em vôo, os articuladores de sigilos quebrados de cidadãos comuns, os parlamentares que se acertaram em conchavo para livrar a cara de todos e os filhos de presidenciáveis com seus negócios pra lá de suspeitos. Os exemplos são tantos e de segmentos tão variados da sociedade que hoje é possível apontar que lamentavelmente está em curso, por obra e empenho de alguns que trabalham nessa direção, um novo status – mais pobre decerto – da ética brasileira. Aquele conjunto de padrões que regem o comportamento de uma sociedade encontrou no Brasil essa revisão desmiolada, embora localizada entre uma minoria, do que é certo e do que é errado. Uma revisão que, reitere-se, vigora apenas no seio do pequeno grupo de beneficiários e que, claro, não tem a menor chance de vingar como unanimidade, como padrão de comportamento, dada a índole do brasileiro. Há de se registrar, contudo, que foi por tal faceta espertalhona que entraram na ordem do dia certos conceitos estapafúrdios, como a idéia de que caixa 2 não é crime e a premissa de que os interesses privados podem sim avançar sobre o interesse público, e até desconsiderá-lo. Cidadãos comuns que pagam impostos, que cumprem com seus deveres, não devem, e não podem, perder a capacidade de se indignar nesse ambiente. Muitos, no papel de pais, que assumem o desafio da educação, gerações após gerações, hão de se perguntar: o que ensinam hoje ao filho sobre ética está batendo com o que vivenciam no dia-a-dia? Provavelmente não, e é de cada um desses pais, e sua, caro leitor, a missão de colocar os princípios no seu devido lugar.