Já virou lugar-comum. Sempre que um artista ou banda nacional vence a barreira fundamentalista imposta pelo circuito independente e consegue alguma notoriedade, críticos e especialistas se assanham e os classificam de imediato como “a nova cara da MPB”. Se esse artista ou banda usa de elementos comuns à cultura brasileira em seu som – seja um violãozinho, seja um pandeiro aqui e ali –, pode apostar que ganhará o rótulo. Talvez o motivo da distribuição desse título a rodo seja uma vontade inconsciente de ver mesmo uma nova MPB, já que desde o tropicalismo não surgiu nada lá muito inventivo no País. DonaZica, banda paulistana que lança Filme brasileiro (Elo Music), seu segundo CD após Composição, certamente será mais uma a ser agraciada com a honraria.

Com letras que abusam do humor inteligente (“Vixe Maria/como é fácil se enroscar/perder o rebolado/cair não se levantar”, diz a música Vixe Maria) e das boas sacadas (“e haja yoga para amolecer a cabeça dura”, de Nua e crua), o grupo faz deliciosas misturas de samba, jazz, rock e até hip-hop – o rapper BNegão dá uma canja na faixa Nua e crua. E fica difícil não se deixar levar pelas belas vozes das cantoras Iara Rennó, Andréia Dias e Anelis Assumpção. É esta última, aliás, que entoa uma das canções mais bacanas do disco: Mulher segundo meu pai, de Itamar Assumpção, pai de Anelis.

Só o tempo vai dizer se a DonaZica é de fato a “nova cara”. Mas que a banda
deu uma boa sacudida no mofo da MBP, isso deu.