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Em dezembro, a bancada do PMDB no Senado fez ao menos cinco reuniões para discutir a sucessão na presidência da casa. Não conseguiu consenso em nenhuma delas. Os nervos estão à flor da pele. Por contar com a maior bancada, o PMDB tem direito à cadeira de presidente do Senado. Mas a legenda rachou de tal maneira que abriu espaço até para candidatos de outros partidos. Na Câmara, esse clima de incerteza e jogo de pressão se repete. Entre os deputados, tudo estava certo para a escolha do peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN) para a presidência. O acordo, porém, pode ser desfeito depois que parte da bancada do PT passou a questionar a hegemonia do PMDB nas duas Casas. A disputa para o comando da Câmara e do Senado, que se repete a cada dois anos, promete desta vez se transformar numa batalha campal entre os dois principais partidos da base do governo. A confusão entre PMDB e PT tem octanagem para interferir na aprovação de projetos governistas e até inviabilizar palanques nas eleições municipais de outubro. Afinal, está em jogo um Orçamento total de R$ 6 bilhões, além de muito prestígio e autonomia para ditar as regras dentro do Parlamento.

Ocupando a presidência do Senado pela quarta vez, José Sarney (PMDB-AP) naturalmente conduzirá a própria sucessão. Ele preferia ser sucedido pelo líder Renan Calheiros (AL), mas tem enfrentado resistências dentro do próprio partido. Alguns colegas, que também estão de olho no cargo, alegam que o senador alagoano teve sua chance na legislatura passada – quando acabou renunciando em meio a um escândalo de corrupção. O argumento de que a escolha de Renan desgastaria a imagem da Casa dá fôlego a outros concorrentes da legenda, como Eunício Oliveira (CE), Eduardo Braga (AM) e Vital do Rêgo (PB). Esta diversidade de opções, contudo, já levou o senador Fernando Collor (PTB-AL) a se colocar como uma alternativa para a autofagia do PMDB. O ex-presidente, que não esconde o desejo de reconquistar poder, abandonou o isolamento nas últimas semanas e passou a frequentar rodinhas de parlamentares para angariar apoio e obter a bênção de Sarney. O PT, por seu lado, aproveita a guerra e anuncia que estuda lançar a candidatura da senadora Marta Suplicy (SP), recompensando-a pela saída da disputa para a Prefeitura de São Paulo.

O diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, acha que os sinais de discórdia dentro do PMDB acabam alimentando a cobiça das outras legendas. “São cargos que acumulam muito poder, tanto interno como em nível nacional”, diz Queiroz. “É natural que tenha muita gente de olho. O grande desafio é não se autodestruir.” Embora a votação só ocorra em fevereiro de 2013, Queiroz ressalta que as articulações pelo comando das Casas já começaram e têm um peso considerável na equação eleitoral, tanto na disputa municipal deste ano como nas eleições majoritárias de 2014. “As posturas adotadas agora vão refletir no futuro.”

Na Câmara dos Deputados, a eleição presidencial de 2014 é o principal trunfo do PMDB. Os deputados atrelam a manutenção da aliança ao cumprimento do acordo fechado em 2010, pelo qual a cadeira de presidente seria cedida, sem resistências, a um peemedebista. Pelo acordo, a sucessão deve ser natural e o cargo seria entregue a Henrique Eduardo Alves. Ele já sabe que alguns petistas começaram a se articular, inclusive com o Palácio do Planalto, alegando que não é justo ceder mais espaço ao PMDB, um aliado volúvel. Na linha de frente da rebelião petista surgem os nomes dos deputados paulistas Arlindo Chinaglia, Paulo Teixeira e Cândido Vaccarezza. “A gente espera que todo mundo cumpra o que foi combinado”, alerta o líder peemedebista. Mas, no faroeste da política, o mandamento é não confiar em ninguém. 

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