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RECONSTRUÇÃO
Destroços se acumulam em Otsuchi; três meses depois, o local recuperado

O roteiro de março de 2011 indicava um futuro dramático para o Japão. Em apenas dois minutos, um terremoto de 9 graus na escala Richter deixou um rastro de destruição, a ameaça de uma hecatombe nuclear e a certeza de que a economia do país sofreria os efeitos da tragédia por um longo período. Menos de um ano depois do tsunami, as previsões pessimistas não se confirmaram. Assim como fizeram logo após a Segunda Guerra Mundial, os japoneses novamente deram lições de perseverança. A recuperação não só foi rápida como veio com força. No terceiro trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto do país cresceu 5,6%, a taxa atual de desemprego está em 4,5% (um dos índices mais baixos entre as nações ricas), a indústria automotiva cresceu 24% em dezembro e as reservas internacionais superaram a marca de US$ 1 trilhão. Para efeito de comparação, nenhum dos gigantes europeus tem indicadores tão positivos para exibir.

Não faltam exemplos para ilustrar a competência e a agilidade dos japoneses. Totalmente destruída pela força do terremoto, uma estrada que liga a capital Tóquio à cidade de Naka foi reaberta em apenas seis dias e avenidas e prédios inteiros foram reerguidos em tempo recorde. Em seis meses, o aeroporto de Sendai, que viu seus aviões serem arrastados pelas águas como se fossem frágeis brinquedos, estava completamente restaurado. A rápida reconstrução do país abre caminho para a retomada da economia. Segundo Paulo Yokota, ex-diretor do Banco Central do Brasil, o dinheiro investido principalmente na construção civil teve um efeito multiplicador – milhares de operários foram contratados para executar os serviços e profissionais de diversas áreas foram acionados às pressas para fazer o país andar. O custo da reconstrução foi estimado em USS 235,8 bilhões. Em uma lição de decoro, os japoneses devolveram mais de US$ 100 milhões de doações feitas pela Cruz Vermelha.

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FÔLEGO
Com a retomada da economia, as vendas de automóveis subiram 24%

A retomada é resultado também do envolvimento e do sacrifício da população. Segundo Yokota, que voltou recentemente de uma viagem ao Japão, após a catástrofe ampliou-se a conscientização sobre a necessidade de economia de energia. Para evitar sobrecargas nos horários de pico, algumas fábricas reduziram o expediente durante a semana e passaram a produzir a pleno vapor aos sábados e domingos. Os horários de escolas e do comércio também mudaram, o que reduziu os congestionamentos nas ruas e eliminou as cenas mundialmente conhecidas de empurra-empurra no metrô de Tóquio. “Para isso funcionar, foi preciso o engajamento da população”, diz Yokota. “Se não fosse pelo desastre, seria mais difícil as pessoas aderirem.” A resposta dos japoneses a seu histórico de infortúnios naturais vem da tecnologia. Os aparelhos elétricos, como ar-condicionado, televisão e lâmpadas, consomem significativamente menos energia – alguns chegam a gastar 10% do que gastam produtos equivalentes usados no Brasil –, e existem tecidos que resfriam ou aumentam a temperatura do corpo durante estações de calor ou frio intenso. Para um país que construiu uma das maiores economias do mundo após os estragos causados pela Segunda Guerra Mundial, nenhum desafio parece insuperável.  

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