chamada.jpg
"Sou egocêntrico como todo ator, mas não
prejudico os outros com minhas neuroses"

Paul Giamatti, ator

O ator americano Paul Giamatti, 44 anos, sempre soube que, se dependesse dos seus atributos físicos, jamais conquistaria Hollywood. Após estudar literatura inglesa e dramaturgia, ele optou por atuar e logo percebeu que podia tirar partido do seu tipo gordinho e careca investindo em personagens que brilham pelo cinismo, ironia e espirituosidade. Essa fórmula novamente se repete no drama “Tudo pelo Poder”, em cartaz no Brasil. Nesse novo filme dirigido por George Clooney e que concorre a quatro prêmios Globo de Ouro, Giamatti interpreta um especialista em marketing político que joga sujo para ver seu candidato derrotar o adversário (um governador interpretado por
Clooney). “Meu personagem é um exemplo da guerra sem escrúpulos que rola nos bastidores das campanhas”, diz Giamatti, que trata do filme, de política e da rivalidade no cinema, na entrevista a seguir.

ISTOÉ – O sr. buscou inspiração em alguém para interpretar o marqueteiro político em “Tudo pelo Poder”?
Paul Giamatti – Os marqueteiros são celebridades nos EUA e têm egos enormes. São fontes de inspiração, mas não foquei em nenhum particularmente.

ISTOÉ – Os atores também têm egos fortes.
Giamatti – Como todo ator, eu sou egocêntrico. Mas não prejudico ninguém com as minhas neuroses. O máximo que posso fazer de mau é deixar o espectador entediado.

ISTOÉ – Como nasceu a sua predileção pelos anti-heróis?
Giamatti – Quem eu poderia enganar? Com o meu tipo físico, sempre soube que jamais seria o herói. Como há atores bonitões o suficiente para o papel de mocinho, alguém teria de interpretar o tipo comum, não?

ISTOÉ – É difícil interpretar homens mais velhos?
Giamatti – Desde que comecei tem sido assim. A culpa deve ser da minha falta de cabelo. Se eu possuía alguma dúvida sobre isso, ela desapareceu com “Minha Versão para o Amor”.

ISTOÉ – Por quê?
Giamatti – Tinha esperança de precisar de uma peruca de cabelo ralo, mas disseram que o meu cabelo convencia como o de um idoso do jeito que ele é (risos).

ISTOÉ – O cinismo é a única forma de encarar a política nos dias de hoje?
Giamatti – Não tem como ser diferente. No meu caso, eu tinha apenas sete anos quando o escândalo de Watergate estourou, acabando com a carreira política do presidente Richard Nixon. Desde cedo aprendi que o governo é sempre uma piada.

ISTOÉ – Há muito do sr. nos seus personagens, principalmente nos mais neuróticos?
Giamatti – Tenho as minhas neuroses, não nego. Uma delas é sempre achar que o filme que estou rodando será o último, que nunca mais serei chamado para trabalhar. De resto, sou um cara sem graça. Talvez isso explique a minha queda por tipos difíceis, irascíveis e temperamentais.

ISTOÉ – Esses personagens são mais interessantes?
Giamatti – Para mim, são. Prefiro ser o velho rabugento. Os galãs são babacas.