Oferecer a outra face, atentar para as próprias atitudes antes de julgar os outros, perdoar e ser humilde são algumas das leis divinas apresentadas no Novo Testamento. A novidade é que elas foram descobertas pelo mundo corporativo e têm servido de inspiração para uma safra de livros com poder para se tornar sucessos de venda. O homem por trás dessas regras, Jesus Cristo, acaba de ser alçado à posição de consultor de empresas. E não cobra honorários ao mercado.

Em 2001, quando o psicólogo americano Mark W. Baker escreveu Jesus, o maior psicólogo que já existiu, lançado no Brasil em 2005 pela editora Sextante e há 50 semanas entre os mais vendidos, não imaginava que o título inspiraria uma lista extensa de publicações. Em fevereiro, a mesma editora relançou Jesus: CEO, de Laurie Beth Jones, rebatizado de Jesus, o maior líder que já existiu. Neste mês, a editora Campus/Elsevier repete a fórmula e apresenta Jesus, o maior executivo
que já existiu
, de Charles C. Manz, professor da universidade de Massachusetts.
O autor justifica a publicação ao resumir o que pensa do protagonista: “Suas
lições de liderança apontam para uma nova abordagem que pode permitir que líderes e seguidores mantenham a integridade, vivam em um plano superior e, finalmente, atinjam suas metas pessoais e profissionais através de princípios práticos e razoáveis.”

A despeito dos ensinamentos éticos apresentados em suas páginas, a maioria desses livros é criticada por teólogos e religiosos. “Tirar Jesus da Palestina de dois mil anos atrás e colocá-lo na função de presidente de empresa no século XXI, como se os 12 apóstolos fossem seu staff e as parábolas sua estratégia operacional, o tornam uma espécie de Frankenstein”, compara o teólogo e professor da PUC de São Paulo Fernando Altemeyer. “Até porque, embora seja referência ética, Jesus não foi bem-sucedido do ponto de vista empresarial. Ele viveu pobre e foi mal compreendido até por seus seguidores. Tanto que acabou traído por um deles”, lembra. Dom Odilo Scherer, secretário geral da CNBB, faz coro: “As tentativas de apresentar Jesus como modelo em áreas da atividade humana são forçadas e fazem de Jesus um mito, sem história e sem rosto, que cada um ajusta para seu consumo.” Desse jeito, logo surgirá nas lojas mais um best seller: Jesus, a maior polêmica que já existiu.