No dia 1º de fevereiro de 1995, o guitarrista Richey James, do quarteto galês Manic Street Preachers, abandonou o hotel em que estava em Londres, deixando no quarto o passaporte e cartões de crédito. Seu carro foi encontrado uma semana depois, perto da ponte Severen Bridge, em Bristol, local conhecido como palco de suicídios. O corpo de James, contudo, nunca foi localizado. Volta e meia aparecem relatos de que ele teria sido visto em locais improváveis. O sumiço trágico do músico conferiu aura mítica à banda, que já tinha três ótimos discos no currículo. Lifeblood (Sony Music), o sétimo da carreira do trio remanescente, confirma a fama.

Embora soe como um clichê, não deixa de ser estimulante abrir o encarte de um disco que tem como epígrafe um pensamento de Descartes e ouvir na sequência um rock cantado com vontade trazendo na letra versos como “Em 1985, Orwell prova que estava certo” ou “Deus está morto como Nietzsche falou”. A faixa de abertura, 1985, com baixo e teclados a The Cure e New Order, é seguida pela não menos oitentista The love of Richard Nixon. Conhecidos pela letras politizadas, os Manics lembram o impeachment do presidente americano e comentam com ironia que “o mundo está ficando velho”. Com algumas faixas produzidas por Tony Visconti, o homem por trás de alguns dos melhores discos de David Bowie, Lifeblood soa às vezes estridente em seu exagero de teclados. Mas a bela voz de James Dean Bradfield, um Bono menos afetado, torna assobiável até as canções medianas.