Em pleno Carnaval, que costuma comandar de sua casa em Olinda, o pernambucano Alceu Valença coloca nas lojas Na embolada do tempo (Indie Records), o 26º de sua carreira e o primeiro a trazer composições inéditas desde Forró lunar, de 2001. Das 12 músicas, ele só não assina sozinho Romance da Moreninha, parceria com Emmanoel Cavalcanti, e Vampira, de J. Michiles. A música-título faz parte da trilha sonora de Cordel virtual, uma idéia de Alceu que será transformada em filme dirigido pelo próprio e por Walter Carvalho. É nela que se encerra o conceito do disco. “Você quer parar o tempo, e o tempo não tem parada”, canta Alceu ao som de berimbaus em estéreo e bateria de rock pesado, até que se ouve a voz de seu filho Rafael, de apenas três anos, marcar o ritmo para a entrada de pífanos e guitarras ainda mais pesadas.

Quando irrompeu via Rede Globo no sul-maravilha cantando Vou danado pra Catende no Festival Abertura de 1975, Alceu foi apelidado de “Ian Anderson do Nordeste”, numa referência ao líder do grupo inglês Jethro Tull com seus cabelos compridos e botas de cano longo. Por mais que mergulhe em suas raízes de emboladores, cegos cantadores, Gonzagão, a infância em São Bento do Una, o autor de Morena tropicana não nega que é uma pedra rolante. Tanto é que entregou a produção, gravação e mixagem de seu disco para o guitarrista Paulo Rafael, que não deixou a peteca cair. O álbum traz ainda Noite vazia, que ficou de fora de seu trabalho de estréia, com Geraldo Azevedo, em 1970, e Ai de ti Copacabana, há seis anos na gaveta. Puro Alceu, alto, claro e em bom som.