Dezenas 13, 15, 25, 45 … bingo! Com apoio de todos os partidos, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou o retorno da jogatina. Em breve, se a mudança passar pelo plenário do Congresso, o Brasil terá uma casa de apostas em cada esquina. E o curioso é que isso esteja acontecendo às vésperas de uma eleição. Com a volta dos bingos, estarão garantidas todas as doações não contabilizadas de campanha. O famoso caixa 2, que, como o presidente Lula definiu à época do Mensalão, sempre se fez no Brasil.

No curto prazo, prevalecerá o discurso de que os bingos estão retornando de cara nova, com mais fiscalização por parte da Receita Federal e menos espaço para a lavagem de dinheiro. Mas é apenas questão de tempo para que os escândalos voltem a ocorrer. Até porque a relação entre o PT e a jogatina é histórica. No Rio Grande do Sul, o dinheiro sujo do jogo ajudou a bancar as campanhas de Olívio Dutra. E um personagem que acabou dominando o mercado gaúcho foi Carlinhos Cachoeira, o mesmo que grampeou Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu, pedindo propina. Foi naquele instante que o ex-capitão do governo Lula começou a cair. E a cena ainda abriu a porteira para que se revelassem as relações de outros arrecadadores financeiros do PT, como Rogério Buratti, da turma de Ribeirão Preto, com o jogo. No fundo, o dinheiro sujo do bingo esteve na gênese de vários escândalos petistas.

Com a proximidade das eleições de 2010, o PT mais uma vez abraçou o pragmatismo, como se os fins justificassem os meios. E essa mesma visão pragmática também é usada para defender o jogo. Fala-se num mercado potencial de R$ 7 bilhões e na criação de 320 mil empregos, como se qualquer outra atividade ilícita, como o tráfico de drogas, por exemplo, também não movimentasse um bom dinheiro e ainda gerasse postos de trabalho. Mas o que importa são os efeitos colaterais. O jogo não apenas cria um canal quase oficial para a lavagem de dinheiro como ainda vicia quem se deixa seduzir pela tentação do dinheiro fácil – os chamados bingólatras, que se tornaram um problema de saúde pública. E não custa lembrar que, em 2004, o próprio presidente Lula disse que não poderia legalizar o crime organizado em nome apenas de alguns empregos.

Há quem diga que o jogo também existe há muitos anos em outros países, como os Estados Unidos. Mas lá os cassinos ficaram concentrados na cidade de Las Vegas, no meio do deserto. Aqui, estarão em todas as esquinas, seduzindo gente incauta, em geral velhinhos, e alimentando as milionárias campanhas de deputados e senadores. Tudo por fora, é claro.