É inegável que a presidenta Dilma Rousseff atravessou bem seu primeiro ano de governo. No plano econômico, o Brasil pouco sentiu os efeitos da crise internacional. Internamente, a primeira mulher no comando do País fecha 2011 com uma aprovação superior à que seus dois antecessores conseguiram em períodos semelhantes: Dilma tem 72%, contra os 66% de Lula e os 57% de Fernando Henrique Cardoso em seus primeiros anos. Eleita na esteira do prestígio de Lula, ela construiu pontes com a oposição e avançou sobre o eleitorado da classe média ao demonstrar uma postura menos condescendente e mais institucional diante dos escândalos de corrupção. Deu certo. De longe, tem-se a impressão de que o Brasil é chefiado por uma “mãe” enérgica e correta.

Apesar desse sucesso inicial, Dilma ainda não começou a construir sua marca. FHC foi o presidente que derrotou a inflação e que, com a privatização e a abertura econômica, promoveu um choque de competitividade nas empresas. Lula simbolizou a inclusão social e, no plano econômico, também garantiu a emancipação nacional ao promover a virada nas contas externas, que tirou o País do colo dos credores e de organismos como o Fundo Monetário Internacional. Com FHC, o Brasil se organizou. Com Lula, recuperou a autoestima e passou a ser “gente grande” no plano global.

Mas, e Dilma? Qual será a sua marca? Ela, que tira férias entre 26 de dezembro e 9 de janeiro e descansa na Base Naval de Aratu, na Bahia, deveria começar a pensar a respeito. Como pretende passar para a História? Como quer ser lembrada no futuro? O governo, que tinha como meta inicial a erradicação da miséria, viu todas as suas iniciativas ser ofuscadas pela agenda negativa da “faxina”. E, por certo, não é como “faxineira da República” que Dilma pretende ser lembrada pelas futuras gerações.

É hora de organizar um novo discurso e de promover uma reforma ministerial que, efetivamente, blinde o governo em relação a novos escândalos. Até porque a “faxina” é também paralisante e gera estragos no plano gerencial. Obras essenciais não andam e muitos projetos da Copa ainda parecem ser apenas projetos. Sem falar nos impactos políticos. Até agora, Dilma já conseguiu brigar com quase todos os aliados, como o PR, o PMDB, o PCdoB, o PDT e o próprio PT, que também não anda lá muito satisfeito.

A continuar nesse ritmo, Dilma conseguirá apenas concluir uma travessia de quatro anos, como aquela que conduziu o barco na ausência forçada do líder. Aos poucos, já se ouvem sussurros pela volta de Lula em todos os partidos da base aliada. E num país onde a oposição política mostra-se desarticulada e enfraquecida, há uma única grande dúvida nos meios políticos: Dilma ou Lula em 2014? Na Rússia, cujo processo político tem semelhanças com o Brasil, Dimitri Medvedev perdeu o jogo para Vladimir Putin. Aqui, para se viabilizar, Dilma terá que fazer mais a partir do próximo ano. Essencialmente, terá que começar a fazer política. 

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