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Maria Isabel Rueda (acima) contam histórias de um mundo dentro de casa

ASIMETRÍAS Y CONVERGENCIAS/ Galeria Vermelho, SP/ até 3/10

Há uma tônica comum, compartilhada por grande parte dos trabalhos da mostra "Asimetrías y Convergencias". À parte o fato de todas as obras serem desenhos – e seus desdobramentos -, poderiase dizer que quase todas elas funcionam como "crônicas caseiras", por referirem-se a situações vividas em espaços íntimos e interiores. É como se os trabalhos que estão expostos na Galeria Vermelho tivessem sido criados a partir de longos períodos de convivência entre o artista e o universo particular que o cerca. Isso fica muito claro, por exemplo, nas instalações robóticas de Adriana Salazar: em "Máquinas Maleducadas", a artista fabrica uma engenhoca que verte o conteúdo de uma garrafa de vinho em uma taça. Esta, no entanto, recusa-se a conter o vinho e invariavelmente despeja-o no chão da galeria.

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RELATOS PESSOAIS
Obras de Mónica Naranjo

A subversão do universo caseiro também dá o tom do vídeo de Gabriel Antolinez, "Aire, Bolsa y Cinta Adesiva (Mi Casa)", em que um tubo inflável de plástico transparente passeia pelos quatro cantos da casa; e ainda nas projeções de Angélica Teuta, intituladas "Decoración para Espacios Claustrofóbicos". Se alguns operam a subversão das máquinas, outros decidem-se pela subversão dos conceitos. É o caso de Milena Bonilla, que reescreveu a íntegra de "O Capital", de Karl Marx, usando a mão esquerda. Comentário de um mundo sem divisões políticas à esquerda ou à direita? Talvez, mas, sem sombra de dúvida, uma operação de muitas horas de confinamento.

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SUBVERSÃO DO MEIO Milena Bonilla reescreveu "O Capital" com a mão esquerda

No entanto, sabemos que nem só de espaços internos é feito o ambiente doméstico, já que o mundo entra em casa pelas janelas da televisão e da internet. "Por décadas, os artistas colombianos se identificaram exclusivamente com o tema da violência", escreve a curadora colombiana María Iovino no texto conceitual da exposição. Mas, segundo ela, o mundo mudou para a geração de colombianos que cresceu e se formou nos anos do desenvolvimento da internet: agora os tópicos da reflexão artística se universalizaram.

Ela argumenta que o jovem artista está menos focado na complexidade política e social da Colômbia e mais suscetível a questões de natureza afetiva e relacional. "Há poucos anos esses temas eram tidos como ilegítimos e, inclusive, ridicularizados intelectualmente. Porém, hoje, no espaço da internet as relações estão se multiplicando com muitas implicações", afirma a curadora. De fato, há uma boa dose de afeto implícito nos desenhos da série "Berlin Half Stories", de Mónica Naranjo. A série é um diário visual dos percursos solitários da artista durante uma estadia em Berlim.

A mostra é integrada por desenhos que se desdobram na forma de instalações, vídeos, projeções, animações, gravuras, anotações, livros e murais. Em meio a toda essa diversidade, outro aspecto que todos apresentam em comum é o partido que assumem pelas técnicas rudimentares. Isso se reflete nos robôs low-tech de Adriana Salazar (outro deles é a "Máquina que Tenta Amarrar um Sapato") ou nos desenhos animados manualmente por Cesar González e por Diana Menestrey Schwieger. Há aqui um inegável parentesco com a tal "estética da gambiarra", exercitada por artistas brasileiros.

ROTEIROS

Invasão sonora

RECINE – O CINEMA NAS ONDAS DO RÁDIO/ Arquivo Nacional, RJ/ de 21 a 25/9

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Domingo, véspera do Halloween de 1938. Mais de um milhão de ouvintes da rádio CBS, nos EUA, entram em pânico com a notícia da invasão de extraterrestres na Terra. Após algumas horas de horror, o país descobre que foi vítima da adaptação radiofônica do romance "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, interpretada pelo jovem Orson Welles (foto). Isso foi alguns anos antes de ele mudar a história do cinema com "Cidadão Kane". Esse episódio memorável será revivido em uma tela de cinema instalada no pátio central do Arquivo Nacional, no Rio, durante o 8º Recine – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, que nesta edição tem como tema "O Cinema nas Ondas do Rádio".

A transmissão de Welles é revista no documentário "A Batalha por Cidadão Kane", de Thomas Lennon e Michael Epstein, mas o poder exercido pelo rádio antes da invenção da televisão será abordado por uma intensa programação de filmes, vídeos, exposiçõ es fotográficas e sonoras, debates, oficinas, publicação e palestra. O lema do festival é transformar arquivo em matéria viva e as estrelas são os locutores, atores de radionovelas e apresentadores de programas dos anos 30, 40 e 50, como Carmen Miranda, Fernanda Montenegro e Edgar Roquette-Pinto. "Recine significa resgatar, restaurar, rememorar, reviver, reutilizar. É o cinema revisto", diz o diretor do festival, Clovis Molinari Jr.

No ateliê de Iberê

DENTRO DO TRAÇO, MESMO / Instituto Iberê Camargo, Porto Alegre/ até 29/11

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"A verdade do desenho está dentro do traço", disse, certa vez, o pintor francês Edgar Degas. Apropriada pelo curador Teixeira Coelho, a frase serve de mote para apresentar os trabalhos de 56 artistas que passaram pelo Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura, desenvolvido há nove anos pelo Instituto Iberê Camargo. A mostra reúne 97 gravuras realizadas por artistas como a pintora Tomie Ohtake (foto), o escultor Amílcar de Castro, o arquiteto Álvaro Siza e o pintor Paulo Pasta. Todos utilizando a mesma prensa alemã que pertenceu ao artista gaúcho Iberê Camargo. É um projeto que dá ao artista a possibilidade da experimentação em um meio que não necessariamente é o seu. "Na gravura do Paulo Pasta, por exemplo, é muito sugestiva a ideia de pintura. O público acessa o artista de uma maneira mais pura, mais experimental", analisa Teixeira Coelho.

 

 

Colaborou Fernanda Assef