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A o acender um candeeiro nas comemorações da tradicional Semana Farroupilha, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, foi surpreendida na segunda-feira 14 por imensa língua de fogo que quase queimou o seu rosto. Mas uma chama maior, alimentada por duas investigações da Assembleia Legislativa, ameaça queimar de vez a imagem de Yeda. A CPI da Corrupção quer aprofundar a apuração do esquema que desviou R$ 44 milhões do Detran gaúcho. Os parlamentares da oposição acabam de aprovar a criação de uma comissão de impeachment. "O processo do impeachment é burocrático, longo e desgastante, vai durar até o ano que vem", explica o presidente da Assembleia, Ivar Pavan (PT). "A questão é saber se a governadora está ou não envolvida." Yeda e seus partidários sustentam que o esquema do Detran nasceu em 2001, em convênios assinados no governo do petista Olívio Dutra (1999-2002). "Esse filho não é meu", disse a governadora a assessores. "Ninguém vai me tirar dessa cadeira." O Ministério Público, com base em investigação da Polícia Federal, no entanto, concluiu que a quadrilha do Detran começou a lesar os cofres públicos a partir de 2003, no início do governo de Germano Rigotto (PMDB).

Yeda confia na sua base de sustentação na Assembleia, de 33 dos 55 deputados estaduais, para defender o governo dos ataques da oposição. Mas, como o seguro morreu de velho, está montando uma estratégia de defesa mais ampla. Ela pediu a ajuda de grandes estrelas do partido para se defender do que considera "politização da investigação", que o PSDB atribui ao ministro da Justiça, Tarso Genro, candidato ao Palácio Piratini em 2010. Na área judicial, a governadora contratou o escritório de José Eduardo Alckmin. O escritório vai destrinchar todas as escutas e documentos levantados pela PF e pelo MPF. Os advogados acham que muitas escutas que estão sendo divulgadas não têm valor como prova. Eles devem acionar na Justiça todas as pessoas que fazem acusações contra Yeda. Junto à população gaúcha, a governadora pretende realçar sua administração, focada no rígido controle das contas públicas.

O processo de fritura de Yeda na Assembleia irrita a cúpula tucana, pois pode respingar nas eleições de 2010. O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal, diz que a investigação deveria incluir o final do governo Dutra, quando foram assinados convênios da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados (Fenaseg) e da Associação Brasileira de Bancos Estaduais (Asbace) com o Detran. O Ministério Público suspeita que o dinheiro desses convênios alimentou campanhas eleitorais. Aníbal também acusa um dos arrecadadores da campanha da governadora, Lair Ferst, de conduzir o esquema nos anos que se seguiram. "Esse quadrilheiro do Lair, ao ver que a Yeda ia ganhar, foi se insinuando. Quando percebeu que não haveria mais esquema, começou a fazer as gravações", diz Aníbal. O líder tucano acha ainda que o ministro da Justiça alimenta a crise. "Esse negócio de impeachment é coisa da quadrilha de sindicalistas da escola do ministro Tarso Genro", diz Aníbal.

"Esse filho não é meu. Ninguém vai me tirar dessa cadeira"
Yeda Crusius

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NO ATAQUE José Aníbal diz que a ideia de impeachment vem de "quadrilha" da escola de Tarso Genro

O ministro rebate os ataques do líder tucano. "Nunca fiz nenhuma acusação à governadora Yeda", diz Genro. "Sou daqueles que entendem que estas questões de corrupção não são boas nem próprias para o debate eleitoral." O ex-governador Dutra diz que toda política em seu governo era submetida à Assembleia Legislativa e acusa os dois governos que se seguiram ao seu pelo escândalo. "O esquema começou no governo do Germano Rigotto e a governadora manteve seus articuladores." Um dia depois da abertura do processo de impeachment, o presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas, renunciou ao cargo, alegando problemas de saúde. Como Yeda, Vargas é réu em ação de improbidade na Justiça Federal, por envolvimento com as irregularidades no Detran. Para complicar ainda mais a situação, na quarta-feira 16 foi encontrado morto em um hotel o empresário Nestor Mahler, ex-presidente de uma empresa que teria doado R$ 200 mil para o caixa 2 da campanha de Yeda. Para o delegado Fabrício Madruga, que investiga o caso, as hipóteses mais prováveis da morte são acidente e suicídio. A tragédia, porém, causou estranheza no Sul. Em fevereiro, o ex-chefe da representação do governo Yeda em Brasília Marcelo Cavalcante também foi encontrado morto, no Lago Paranoá, em Brasília.