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ESTRATÉGIA Ações como as de 2006, que provocaram terror, foram suspensas

Marcola está acuado. Durante as duas horas do banho diário de sol a que tem direito, na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, sua fala firme deu lugar a uma fala serena. O líder do PCC está apreensivo e preocupado.

Quem o conhece é categórico: é medo.

Ele decidiu, na última semana, não ir mais a seu próprio julgamento, marcado para o dia 1º de outubro, às 9h, no Fórum da Barra Funda, na capital paulista. Um dos motivos de tanta tensão é que, pela primeira vez em sua vida, ele enfrentará um júri popular. Marcola e o comparsa, Julinho Caram bola, são acusados pelo suposto envolvimento no assassinato do juizcorregedor de presídios de Presidente Prudente Antônio José Machado Dias, morto em 2003.

Na matemática da Justiça, Marcola poderá sair de lá condenado a mais três décadas de xadrez e este será apenas o primeiro de dez processos a que ele responderá nos próximos meses. Para não comprometer o julgamento do líder, o PCC ordenou a seus "soldados" adotarem uma espécie de trégua nas ações criminais nos próximos dias.

"Não sei dessa informação", disse Roberto Parentoni, advogado de Marcola.

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"Mas, de fato, eu quero que a Justiça seja somente técnica ao analisar o caso", afirma. Aos interlocutores, Marcola utiliza-se de uma metáfora futebolística para definir sua situação. "Entrarei no jogo perdendo de 3 a 0 e na hora de um pênalti contra. Tudo o que eu não preciso é de mais confusão." E bota confusão nisso. Estão sendo esperados para o júri mais de uma centena de jornalistas, um aparato policial com helicópteros, fechamento de ruas e transmissão ao vivo pela televisão. Ao exercer seu direito de não comparecer, Marcola acredita que sua imagem estará menos exposta.

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 DESVANTAGEM "Entrarei no jogo perdendo de 3 a 0", disse Marcola

Preso desde 1988 por assaltos a bancos, Marcola é uma espécie de mito às avessas. Leitor voraz – admite ter lido mais de três mil livros -, ele ganhou notoriedade após seu grupo tomar de assalto as ruas da quarta maior metrópole do mundo em 2006 e colocar de joelhos o governo de São Paulo, depois de fazer refém uma população de mais de 20 milhões de pessoas. Naquela semana, a cidade foi transformada em uma Bagdá, com 493 mortos por arma de fogo – boa parte por ações da polícia, que perdeu 40 homens, segundo as investigações conduzidas pelo Ministério Público.

Desde então, Marcola tornou-se uma estrela onipresente do crime. Outro temor de Marcola é o longametragem "Salve Geral", do cineasta Sérgio Resende, que transporta para o mundo ficcional as ações do PCC. Com pré-estreia marcada para a segundafeira 21, o filme já está sendo tratado no Ministério Público paulista como uma apologia à facção criminosa. "Procurei ver o filme, mas os diretores não autorizaram", reclama o promotor Carlos Marangone Talarico. "O filme não faz defesa de ninguém", responde Resende. Já no mundo ficcional, o filme de R$ 9 milhões deixa claro que não existiu nenhum mocinho durante os dias em que o terror tomou conta da capital paulista. O roteiro mostra as entranhas de uma polícia corrupta e bandoleira.

A Justiça teme que a obra de Resende passe uma visão romântica da facção criminosa.