Oito salas, 12 funcionários e uma dúzia de linhas telefônicas no segundo andar de um prédio no centro do Rio de Janeiro formam o quartel-general no Brasil da PDVSA. Trata-se da estatal de petróleo venezuelana, que ganhou fama por aqui depois que doou R$ 1 milhão para o Carnaval campeão da Unidos de Vila Isabel, no Rio. Agora, a companhia quer falar de negócios. Dona no Brasil de uma modesta rede de 12 postos de combustível em Belém, no Pará, a estatal desata planos para entrar com força no mercado distribuidor brasileiro: espera encerrar em breve as negociações para a compra da Ipiranga, maior empresa privada de distribuição de derivados de petróleo do País, com 4.300 postos revendedores, mais de mil franquias próprias de conveniência e 161 postos com GNV (gás natural veicular).

A estratégia da PDVSA – que já montou um terminal de armazenamento e distribuição de produtos em Porto Velho, Rondônia, e se prepara para construir, junto com a Petrobras, uma refinaria em Pernambuco – inclui também a distribuição de gás no continente. A proposta mais ambiciosa é a construção de um megagasoduto que passaria por cinco países e custaria cerca de US$ 20 bilhões. O Grande Gasoduto do Sul, como está sendo chamado, teria capacidade para transportar 150 milhões de metros cúbicos de gás e, segundo os venezuelanos, permitiria uma economia no consumo dos derivados de petróleo, para Brasil e Venezuela, de um milhão de barris por dia. Projetado para ter oito mil quilômetros, sairia do Caribe venezuelano e chegaria a Manaus, de onde se dividiria em dois: um pedaço seguiria para o Nordeste brasileiro e outro para o Rio de Janeiro. Depois, encerraria seu percurso rompendo os territórios do Uruguai, do Paraguai e da Argentina.

Ministro de Energia e Petróleo da Venezuela, cargo que acumula com a presidência da PDVSA, Rafael Ramírez Araque tem deixado chegar à Petrobras recados para que fiquem tranqüilos. Nenhum salto será dado sem que a parceira brasileira seja informada. Se a generosidade do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o Brasil promete trazer bons negócios no setor petrolífero, gente aqui dentro desconfia da fome venezuelana pelo mercado brasileiro. De acordo com um consultor, trocar parcerias pelo nosso mercado pode ser pouco para o Brasil. Chávez, que tem sido acusado pela oposição de usar politicamente sua galinha dos ovos de ouro – a PDVSA é responsável por 50% das receitas públicas e 80% das exportações do país –, chama a tudo isso de “integração energética” da América Latina. Com esse argumento, a PDVSA comprou recentemente 49% das ações da Empresa Petrolífera do Cone Sul, na Argentina, que estava nas mãos da estatal uruguaia de combustíveis Ancap. De quebra, passou a controlar 150 postos de combustível na Argentina.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias