Na semana pas­sada completaram-se 20 anos do fim da União Soviética, o aglomerado de repúblicas socialistas que nos anos pós Segunda Grande Guerra se projetou de maneira hegemônica, ao lado dos EUA, no cenário geopolítico global. Trincada economicamente, desorganizada na política e asfixiada socialmente, a URSS implodiu em meio a ruidosas manifestações do povo nas ruas que exigia seus direitos. O governo de Gorbatchev não aguentou a pressão, muito embora viesse tentando consertar erros do passado com suas bandeiras idealistas da perestroika e glasnost – que, na prática, significavam respectivamente a abertura econômica e a transparência na relação entre o poder e a sociedade. Da URSS para cá, os movimentos de protesto mundo afora ganharam dimensão, resultado e ressonância surpreendentes. Chegaram neste ano ao auge com uma série de revoluções de Estado em cadeia. Cada uma delas trazia a marca de cidadãos tomando praças e avenidas para exigir mudanças. As transformações na Líbia, Tunísia, Síria e no Egito – sob a égide do que se convencionou chamar de Primavera Árabe – levaram à derrubada, à prisão e até à execução de alguns ditadores. E eis aí apenas uma face do processo em curso. Os salvos românticos do “Ocupe Wall Street” multiplicaram-se em versões customizadas por vários países, Brasil inclusive. Ao que tudo indica, o planeta se converteu numa grande e frenética arena aberta de debates sobre os caminhos a seguir pela humanidade. O capitalismo – ironia do destino justamente no aniversário de morte da mais socialista das nações – está em xeque com ataques ao seu templo até aqui inexpugnável de representação: as bolsas de valores. Com a Europa em colapso financeiro, os EUA em frangalhos e o Oriente revoltado, países ditos emergentes dão o rumo e o prumo na direção da saída. O mundo virou de cabeça para baixo e nessa configuração, talvez por sorte ou por uma janela de oportunidade, o Brasil está na vantagem. E também aqui as mobilizações sociais foram marcantes e angariaram conquistas vistosas como a ascensão de mais de 25 milhões de pessoas à classe média, com o acesso ao consumo que nunca tiveram.


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