Não chegou a ser uma quinta-feira negra, como as tantas vividas pelo mercado financeiro no final dos anos 90. Nem houve um motivo incontestável para pânico, como nos velhos tempos dos ataques especulativos, embora o tombo tenha sido considerável. Em apenas um pregão, a Bolsa de Valores de São Paulo passou da euforia, reinante nos últimos 12 meses, para um estado de depressão. A queda, na quinta-feira 29, foi de 6,14%. Um espanto, a julgar pela sequência de recordes de alta, o último registrado na segunda-feira 26, quando o índice Bovespa atingiu históricos 24.349 pontos. A cotação do dólar, que já vinha em ligeira alta ao longo da semana, decolou para R$ 2,931, patamar mais alto do ano. O risco-país voltou a superar os 500 pontos ao longo do dia, para fechar pouco abaixo disso. Do ponto de vista dos índices financeiros, foi o pior momento da era Lula, caracterizada por uma harmoniosa relação com os agentes do mercado.

As razões da balbúrdia são duas, a começar pelo ressurgimento da possibilidade de uma elevação dos juros nos Estados Unidos (hoje em 1% ao ano). Se isso acontecer, é muito provável que a enxurrada de capital financeiro que vem inundando os países pobres em busca de lucros retorne, em parte, ao porto seguro ianque. Quase ao mesmo tempo, surgiu a ata da reunião do Copom da semana retrasada, na qual fica explícita a razão por que os juros (os nossos, de 16,5% ao ano) não foram reduzidos: é o medo da inflação, justificado na semana passada após a divulgação de alguns índices de preços acima do esperado. A ata frustrou a expectativa generalizada de novas reduções.

Duas notícias que dificilmente causariam tanto estrago, não estivesse o mercado na crista de uma onda positiva. “Estávamos caminhando para uma situação de certo excesso de otimismo”, diz o economista Carlos Antonio Rocca, da consultoria RiskOffice. Uma noite bem dormida fez com que o pessimismo se esvaísse. No início da tarde da sexta-feira 30, a Bolsa operava em ligeira alta, assim como o dólar.