Edward Bloom, herói de Peixe grande e suas histórias maravilhosas (Big fish, Estados Unidos, 2003), comédia de Tim Burton que tem estréia nacional na sexta-feira 6, é um mentiroso compulsivo e, por esta característica, um contador de histórias nato. Encarnado na juventude por Ewan McGregor e na velhice por Albert Finney, ele passa a vida narrando feitos extravagantes para o filho Will (Billy Crudup). Desde menino, Edward já sabia, por exemplo, como e quando morreria. Teve a visão premonitória pelo olho de vidro de uma bruxa de Ashton, no Alabama, cidade onde nascera. E, aos 18 anos, ganhou a chave do prefeito depois de convencer o gigante Karl – criatura que estava horrorizando a todos – a abandonar o lugar em sua companhia.

Todas as fantásticas aventuras de Edward surgidas na tela são lembradas pelo pacato interiorano no leito de morte, diante do tédio dos familiares, já cansados de ouvi-las. Não é o caso do espectador, que as acompanha com o maior prazer. A tese de Burton, que tem em Edward um óbvio alter ego, é que as pessoas precisam fantasiar suas vidas para fugir do cotidiano sem graça. Nas mãos de Steven Spielberg, que iria dirigir o filme, tal argumento renderia uma fábula ingênua e divertida. Sob a batuta de Burton, tornou-se indefinido. O problema é que, ao dar brilho às invenções de Edward, acinzentando sua vida real, Burton caiu na própria armadilha. Fez a fita abrigar uma metade chata que se alinhava mal com a outra, divertida. Pior ainda sua tentativa de ser didático ao tratar das relações entre realidade e fantasia. Tim Burton é bem melhor quando solta a imaginação sem precisar justificá-la.