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TRIO NONSENSE Os músicos Sestini, Cambota e Áquila: roqueiros boca suja

Grande celeiro de duplas sertanejas, a cidade de Goiânia tem também um animado lado roqueiro. É nela que acontece anualmente o festival Goiânia Noise, referência no universo do rock alternativo e do qual desponta uma legião de bandas independentes que deixam a carreira ao sabor do acaso. É nesse ponto que os jovens goianos do grupo Pedra Letícia se diferenciam dos seus conterrâneos – o trio, desde o início, perseguiu o sucesso.

Há quatro anos na estrada, ele já contabiliza 13 milhões de acessos às suas músicas na internet e metade desse número fica por conta apenas do hit "Como que ocê pôde abandoná eu?" (sic), letra do vocalista e violonista Fabiano Cambota. Os outros dois integrantes são Fabiano Áquila (voz e violão) e Thiago Sestini (percussão). Cambota acha que o fato de seu Estado ser um grande "exportador" de duplas caipiras sacramentou a ideia de que nele não existe outro gênero musical.

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Cambota quer mostrar que há e faz graça na faixa "Caminhoneta Zera": "Só quero um espaço pra tocar meu violão/sem ter que formar dupla com o meu irmão." Irreverente e boca suja, o trio tem um repertório de clichês e piadas pouco originais, tudo apimentado com referências sexuais. O autor de todas as letras é Cambota: "A culpa é minha", diz ele, que acha que o rock atual está muito sério. "O que mais tem por aí são bandas-discurso.

Nós estamos mais para o humor dos anos 80." A lembrança de grupos como Blitz e Ultraje a Rigor é óbvia, mas o Pedra Letícia tem muito da despretensão e do nonsense do grupo paulista Mamonas Assassinas – seus integrantes morreram num acidente aéreo em 1996. Seu disco de estreia é uma mistura de estilos, mas prevalece o pop rock e o brega – reverenciado com a participação em uma das faixas de seu maior expoente, Reginaldo Rossi. As letras são engraçadas, às vezes de profundo mau gosto e quase sempre politicamente incorretas.

"É uma banda fuleira e tosca", diz Cambota. "Eu escrevia essas músicas para cantar nos churrascos." O repertório de 11 faixas segue o gênero "canção-piada", com levada fácil e que se decora rapidamente. E o nome adotado pelo grupo tem tudo a ver com o estilo despojado que eles professam. A inspiração é uma versão da música "Bijuterias", de João Bosco, cantarolada pelo personagem Didi Mocó (Renato Aragão).

Em vez de "Você é minha pedra/minha ametista", ele dizia: "Você é minha pedra letícia". Ou seja, totalmente nonsense. Esse humor infantil pincelado com passagens eróticas é o que atrai grande parte dos internautas adolescentes que acessam as músicas na internet. Duas faixas referem-se à atriz Juliana Paes, que é "uma boa rima", segundo Cambota.

"Tente rimar com Luciana Vendramini, por exemplo". E no esculacho geral, sobra até para o escritor Paulo Coelho, na música "Eu não toco Raul": "E aquele alquimista nada a ver/ viagens no diário de um mago/ mais falso que o Menudo/essa idolatria por Raul parece aquele velha opinião formada sobre tudo."