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FOTO PINTURA Praça coberta em Simiane, no interior da França: estilo renascentista

Quem vê uma imagem como esta acima, feita pelo fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson na França, em 1970, pode imaginar que ele dirigiu a cena e pediu que cada um dos retratados assumisse determinada posição, tamanha a precisão e o equilíbrio de volumes, linhas e planos. Mas esse enquadramento, digno de uma tela de Piero della Francesca, nunca poderia ter sido preparado, pois isso iria totalmente contra a sua profissão de fé.

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Guiado por uma ética pouco vista nos dias de hoje, em que a manipulação digital de imagens dita as regras, Bresson (1908- 2004) não usava tripé, flash ou qualquer artifício que pudesse "melhorar" uma fotografia. Munido de uma câmera pequena e silenciosa, a Leica, ele podia chegar sorrateiramente ao seu assunto e conseguir flagrantes que pareciam colhidos por uma "câmera oculta".

O prazer de se ver imagens como esta será proporcionado pela exposição "Henri Cartier- Bresson: Fotógrafo", em cartaz no Sesc Pinheiros, em São Paulo a partir da quintafeira 17, com uma reunião de 133 importantes trabalhos. É o mesmo título do livro que a editora CosacNaify lança, trazendo todas as imagens da mostra e mais 22 – todas elas selecionadas pelo próprio artista. Perguntado uma vez sobre como conseguia chegar a sínteses tão poderosas numa simples mirada, Bresson disse:

"Sou nervoso, só isso. E gosto de pintura." Gostar é dizer pouco. Na verdade, ele queria ser pintor e chegou a estudar com André Lhote. Mas ao ver uma foto de três crianças africanas entrando no mar, feita pelo húngaro Martin Munkacsi, tomou o que chamou de "um pontapé na bunda": "De repente entendi que a fotografia podia fixar a eternidade no instante.

Pensei: bom Deus, podemos fazer isso com uma máquina…" O passo seguinte foi queimar todas as suas pinturas e comprar uma Leica. Uma, não: várias. Numa viagem que fez a New Orleans, contratado pela revista "Harper’s Bazaar", o escritor Truman Capote teve Bresson como fotojornalista. No livro "Os Cães Ladram", ele lembra do fotógrafo em atividade, "dançando ao longo da calçada como uma libélula inquieta". Tinha três câmeras balançando no pescoço e a quarta colada ao olho.

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INSTANTE ETERNO praia na cidade francesa de dieppe (acima), e os fundos da estação Saint-Lazare, em paris: a graça do detalhe

Era esse o seu lado nervoso, necessário para captar o que chamava de "imagem furtiva" (termo que foi traduzido para o conhecido conceito de "momento decisivo" na edição americana de seu livro mais famoso).

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Uma receita perseguida por todos os seguidores: "Fotografar é, num mesmo instante e numa fração de segundo, reconhecer um fato e organizar com rigor as formas percebidas visualmente, que exprimem esse fato e o significam."

Fotografar, para Bresson, era também ir ao encontro do outro, o que incluía as culturas de povos distantes de sua formação de burguês endinheirado (sua família era dona da mais famosa fábrica de linhas da França). Na sua extensa carreira, ele viajou por países como a China e a Índia – e isso em momentos capitais, como a queda do Kuomintang e o assassinato de Ghandi.

Tudo isso aparece na mostra e no livro, que traz imagens produzidas entre 1926 e 1979. Como Bresson não se guiava apenas pela pauta pedida pelos veículos para os quais trabalhava, ele retratava também o que acontecia à sua volta. Além de poeta do cotidiano, acabou por se tornar um grande documentarista da história