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COMANDO
Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pode assumir gerência de áreas de infraestrutura do governo

As sucessivas quedas de ministros afastados sob a suspeita de corrupção fortaleceram a imagem da presidenta Dilma Rousseff, que ganhou apoio da opinião pública por se mostrar refratária a desvios éticos. Mas cobraram um alto preço em termos administrativos ao provocar a paralisia de atividades e investimentos. Os escolhidos para suceder os degolados assumiram os novos cargos com medo de cometer os mesmos erros, de parecer condescendente com os esquemas e de desagradar aos partidos que os indicaram. Esse conjunto de temores resultou numa inércia que já começa a incomodar o Palácio do Planalto. A tal ponto que a presidenta estuda mudanças na estrutura do governo para combater a baixa execução em projetos emblemáticos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que usou até agora apenas R$ 6,4 dos R$ 40 bilhões reservados para as obras. Uma das ideias de Dilma é transferir do Ministério do Planejamento para a Casa Civil, comandada por Gleisi Hoffmann, a gerência de áreas de infraestrutura, como rodovias e ferrovias.

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EMPACOU
Ferrovia Norte-Sul é uma das obras que estão praticamente paralisadas

No Ministério dos Transportes está o caso mais emblemático de síndrome pós-corrupção. Depois de sofrer mudanças em seu comando em julho, a pasta hoje comandada por Paulo Sergio Passos só gastou pouco mais de R$ 4,5 bilhões dos R$ 15,4 bilhões reservados para obras em estradas e ferrovias. O ministro ainda amarga a dificuldade de transitar entre políticos, especialmente os do Partido da República (PR), que é o dono do cargo. Soma-se a essas dificuldades a total falta de articulação para apresentar defesa ao Congresso e impedir que obras listadas como irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sejam paralisadas de vez. “O Congresso costuma ter boa vontade com as obras e trabalhamos para que elas continuem. O problema é que a defesa dessa continuidade não tem sido feita com empenho nem pelos órgãos citados”, conta o deputado Rodrigo Castro (PSDB-MG), integrante do comitê de avaliação de obras e serviços com indícios de irregularidades graves.

Os passos lentos do novo ministro dos Transportes viraram assunto no Congresso e ele já é considerado um dos favoritos a deixar o cargo na reforma ministerial, prevista para janeiro. “Não estamos pedindo a saída dele. Mas também não o consideramos nossa indicação”, diz Lincoln Portela (PR-MG), líder do partido na Câmara. Para ele, a dificuldade de realizações é culpa também do tempo que os novos ministros levam para montar equipes e se familiarizar com os órgãos. Na próxima semana, a bancada do PR vai mais uma vez procurar Passos para apresentar uma nova lista de pedidos de obras incompletas nos Estados.

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POUCAS REALIZAÇÕES
No cargo desde 15 de setembro, o novo ministro do Turismo,
Gastão Vieira, dedicou os últimos meses a filtrar convênios

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Ao contrário de Sergio Passos, que sofre com a falta de apoio de seu partido, a inércia dos ministérios do PMDB é minimizada por seus representantes na Câmara. O líder do partido, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), reuniu sua bancada com os ministros Gastão Vieira (do Turismo) e Mendes Ribeiro (da Agricultura) na última quarta-feira. O encontro foi marcado para que os dois executivos, que assumiram os cargos no lugar de Pedro Novais e Wagner Rossi, falassem a seus padrinhos políticos sobre realizações e projetos. Uma clara tentativa de blindá-los da degola, caso o critério de Dilma Rousseff seja o nível de produtividade. “Achamos que eles estão bem. Mendes teve dificuldades por problemas de saúde e disse que agora está dedicado a estudar os projetos do ministério. Gastão também está pegando o ritmo”, diz Alves.

O problema para Gastão Vieira será se o critério para sua permanência for suas realizações. No cargo desde 15 de setembro, o novo ministro do Turismo dedicou os últimos meses a filtrar convênios e pensar em formas de fugir das denúncias de corrupção. Contratou consultores, investiu em parcerias para que instituições como o Senai façam os treinamentos que antes eram de responsabilidade de entidades privadas e parou as licitações em andamento. O temor do ministro provocou uma queda considerável nos gastos com investimentos. Em novembro, ele aplicou exatos R$ 83. No mesmo período de 2010, a pasta investiu R$ 12,4 milhões. Os números foram fornecidos pela ONG Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal.

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PASSOS LENTOS
O ministro dos Transportes, Paulo Sergio Passos, não executou nem 40% do orçamento para as obras

No Ministério da Agricultura, os investimentos da nova gestão caíram de R$ 17,6 milhões em julho, último mês de Wagner Rossi à frente da pasta, para R$ 9,2 milhões em novembro, sob o comando de Mendes Ribeiro. Além de ter enfrentado a queda de toda a cúpula do ministério, Ribeiro passou um mês de licença médica depois de ser submetido a uma cirurgia no cérebro. A relação entre a crise e os gastos com investimentos ficou clara também no Ministério do Esporte, no qual as despesas com obras de ginásios e quadras foram sendo reduzidas à medida que a crise em torno de Orlando Silva foi se agravando. Em setembro, o ministério gastou R$ 98 mil. No mês seguinte, já afogado em denúncias, foram apenas R$ 8 mil. No mesmo mês de 2010, Orlando Silva havia gasto mais de R$ 18 milhões. Os números demonstram que a praga da corrupção não apenas suja a imagem dos partidos políticos, mas paralisa projetos e obras essenciais para o País.

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